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Tuesday, 23 September 2014

Feridas abertas

Time flies. Time waits for no man. Time heals all wounds. All any of us wants is more time. Time to stand up. Time to grow up. Time to let go. Time.
(Grey's anatomy)

É um bocado estúpida a sensação de impotência que confere esta dependência do tempo para que tudo corra bem, para que tudo dê certo. Devia bastar-nos fazer. Esquecer. Seguir em frente. Reconstruir. Piscar os olhos e puf, está tudo composto porque foi isso que quisemos.
Mas não, o tempo manda e diz que tem o seu ritmo próprio. E a nós, a mim, resta respeitá-lo.

Wednesday, 27 August 2014

Um dia hei de lá voltar


Devemos sempre voltar aos sítios onde fomos felizes, de preferência com uma outra boa companhia e com um novo espírito, para podermos ter uma perspetiva renovadora. Para conseguirmos perceber que mais não são do que lugares onde algo aconteceu, mas onde algo mais pode até acontecer.
O coração dispara, o estômago embrulha-se, a garganta fecha-se e impede-nos de respirar. Mas na segunda vez já dói um bocadinho menos. Na terceira menos ainda e vai chegar um dia em que temos noção de que, apenas porque foi bom, não é perpétuo. E só se não excluirmos esses sítios do nosso dia a dia é que podemos voltar a viver neles momentos felizes, sem termos de preocupar-nos com a sua efemeridade.







Thursday, 14 August 2014

Wednesday, 13 August 2014

Free pass

Se há coisa que me custa aceitar é esta tendência que as pessoas têm de entrar e sair da minha vida de livre e espontânea vontade, como se tivessem um free pass para os sentimentos. Hoje gostam, fazem por estar, por conhecer, por dar atenção. Mas amanhã já estão cansadas, já dá trabalho, já não apetece continuar, porque o início é muito mais giro, a tentação é divertida, o perigo apimenta tudo.
Um dia vou inventar um manto de frieza com o qual me visto sempre que for tomar um café, ou jantar, ou ao cinema, ou simplesmente conversar com alguém. Só muito de vez em quando abro uma frecha, para ver no que dá. Se for intenso demais, o melhor é fechar novamente, voltar a tapar-me e deixar que os sentimentos sejam barrados pelo tecido.
Porque quando o sentimento acaba, o vazio é imenso.

Foto daqui / Picture from here


I cannot accept at all this tendency people have to come in and out of my life as they want, as if they had a free pass for feelings. Today they like, they make everything they can to be together, to get to know me, to pay attention. But tomorrow they are tired of it, it takes a lot of work, the willing to carry on fades away, because in the beginning everything is so much funnier, the temptation is amusing, the danger is spicy.
One day I will make a coldness cloak that I will wear anytime I go out for a coffee, a dinner, a movie or a conversation with someone else. I will only allow me to open it rarely, just to see what comes of it. If it's too intense, I will close it again, wrap it around myself and let the feelings to be blocked by the fabric.
Because once the feeling is gone, the emptiness is too deep.

Wednesday, 30 July 2014

Vai correr bem / It will be ok



De repente, num serão a meio da semana entre amigos e desconhecidos, saltitando no presente com o passado, faz-se uma luz que clarifica as ideias e mostra um caminho que funciona.
É possível. Pode correr bem.
Vai correr bem.

Monday, 28 July 2014

Psicologia / Psychology

Uma coisa estranha é sermos nós, vivermos na nossa pele, estarmos 100% do tempo connosco mesmos (mais do que qualquer outra pessoa) e, ainda assim, não nos conhecermos por inteiro, haver coisas que sentimos, físicas ou emocionais, que não conseguimos compreender nem sabemos de onde vêm.


It is very weird being ourselves, living in our own shoes, being with ourselves 100% of the time (more than any other person in the world) and, still, not knowing ourselves completely, because there are some stuff we feel - physically or emotionally - that we cannot understand nor know where they come from.

Monday, 12 May 2014

Despedidas / Saying goodbye

Comecei a manhã de hoje a meter as primeiras roupas na mala e o nó que já tenho na garganta nos últimos dias intensificou-se, enchendo-me os olhos de lágrimas que forcei a ficarem no lugar porque já chega disso. Ainda não consegui desfazê-lo, cá continua, aliado a um bater do coração forte como nunca o ouvi e a um aperto no estômago que diz que por aqui já não passa mais alimento nenhum.
Como é que me despeço das pessoas que vou deixar indefinidamente? Até já? Não te esqueças de mim? Vai dando notícias? Não te esqueças de mim? Vai visitar-me? Não te esqueças de mim?
À boa maneira portuguesa, vamo-nos reunindo à volta de mesas cheias de boa comida, com música à mistura, vamos dizendo piadas e falando do assunto como se estivesse ainda a uns meses de distância.
Estava, é verdade. Há uns tempos. Entretanto o tempo voou e dentro de seis dias mudo de país e deixo cá uma grande parte de mim.
Não sei como vou despedir-me, mas o raio das lágrimas continua a querer vencer-me.

Monday, 14 April 2014

Deixar ir / Letting go

Às vezes há pessoas que nos morrem, seja por uma doença, por um acidente, ou por velhice. Já me morreram algumas pessoas próximas, já sofri e vi sofrer por quem morreu e sei o que dói, o que custa querer só mais um dia, uma hora que fosse para se poder dizer tudo o que ficou por dizer, para se poder contar todas as palavras.
E outras vezes há pessoas que temos de matar em nós, para podermos esquecer todo o mal que nos fizeram, mesmo que antes disso tenha havido tantas coisas boas para recordar. Matamos essas pessoas, deixamo-las morrer na nossa vida, para que os maus momentos presentes não se sobreponham aos bons passados, para que a mudança não nos corroa e nos permita continuar a ser quem somos.
É no momento em que a raiva passa, a vontade de dizer tudo acaba e dá lugar à indiferença de um encolher de ombros desligado que nos apercebemos de que deixámos a outra pessoa morrer em nós.

E se o mundo acabasse amanhã? / What if tomorrow never comes?



Às vezes ponho-me a pensar no que faria se me dissessem que o mundo, pelo menos o meu, ia acabar amanhã. Nada disso das teorias mayas ou chinesas, mas a sério; que hoje era o meu último dia aqui e que amanhã já cá não estaria para beijar, comer, cheirar, beber, ouvir, falar, ver absolutamente mais nada.
Penso nisso pelo menos uma vez por ano, quando calha, só porque sim, e imagino-me em dois lugares distintos: a minha casa, esta que tem sido minha nos últimos cinco anos, ou na Baixa, junto à Praça de Lisboa. Quanto ao resto, sei o que faria: montaria uma mesa em tons de cor de rosa, que rechearia com tudo aquilo que gosto de comer e de beber, para que pudesse matar antecipadamente as saudades; poria uma lista das músicas de que mais gosto a dar e, claro, juntaria à minha volta as minhas pessoas. Não seriam muitas. Entre dez e vinte, porque são essas que cabem em mim.
Esse exercício, embora em parte deprimente, é bom para perceber quem me é realmente importante, os sentimentos que nutro por cada uma dessas pessoas e o que gostaria de lhes dizer.
Não é fácil fazê-lo, mas acabo sempre por, no dia seguinte, o mais tardar, abrir a boca ou uma janela de um qualquer chat e debitar tudo o que me vai cá dentro.
De vez em quando faz bem darmo-nos o prazer de nos darmos conta do quanto gostamos e do quanto somos gostados.

Sunday, 23 February 2014

Dia auto-cenas / Self-day


Andava há uma semana para me meter no carro e conduzir-me até uma marginal: Foz, Matosinhos, Leça, tanto faz. De noite ou de dia, também tanto fazia, desde que tivesse música no carro.
O sol de ontem ajudou-me a decidir: depois de fazer uma arrumação profunda à roupa e aos sapatos espalhados pela casa, pus os óculos escuros, liguei o rádio e deixei-me ir até Matosinhos, onde me sentei junto aos prédios onde um dia ainda irei viver, a ler banda desenhada e a sentir as pernas, a cabeça e a cara serem relativamente queimadas.
Acabado o livro, sentei-me com os sapatos enfiados na areia, virada para o mar, a reunir em mim tantas coisas que me fazem sorrir.
Vi o pôr-do-sol ao sabor de uma Coca-cola e de uma boa conversa, marcando assim o fim do meu auto-dia, que continuou acompanhado no feminino com um frio de tremer a boca, ainda mais refrescado por duas Somersby.
A noite acabou num abraço apertado, cheio de saudades, repleto de memórias reconfortantes.
São dias assim, em que olho à volta e sinto ou vejo a presença de uma grande parte das pessoas de quem gosto, que me garantem que, por mais complicada que a vida possa ser de vez em quando, as outras quando em vezes compensam tudo.

(Mais fotografias depois da versão inglesa)





Tuesday, 18 February 2014

Relógio biológico / Biological clock



Ultimamente ando a ouvir um tic-tac-tic-tac imparável que me faz sonhar com babygrows, carapins, fraldas (limpas), biberons, chupetas e músicas de embalar. Para juntar à festa, acho que o mundo se tem organizado de maneira a impedir-me de pôr esse desejo de lado, quanto mais não seja até ao prazo que estipulei para mim mesma.
Em vez disso, vai fazendo bebés nascer "perto" de mim, vai criando anúncios de derreter, como o do continente, e eu vou vendo séries e filmes com bebés por todo o lado.
Como se para isto?

Friday, 6 December 2013

Peça de um puzzle



Tenho uma utopia já desde há alguns anos. Talvez tenha sonhado com ela, talvez a tenha apenas criado durante a adolescência quando me sentia uma incompreendida, talvez ainda precise dela de vez em quando. O que é certo é que penso muitas vezes em como seria ter alguém cem por cento compatível comigo; alguém que pensasse da mesma maneira que eu, que alinhasse nas minhas loucuras, que me deixasse deprimir quando é preciso, que não me julgue quando como de mais nem quando como de menos, que se ria das minhas piadas sem que tenha de explicá-las, que sinta tudo como eu.
De cada vez que partilho esta ideia com alguém, dizem-me sempre que seria uma monotonia, nem precisaríamos de interagir. Mas às vezes saber-me-ia bem este conforto.
No entanto, há um fenómeno na minha vida, transversal às suas várias etapas, que contradiz isto em absoluto: nunca fui muito capaz de me relacionar com pessoas da mesma área de estudos/trabalho que a minha. Para distanciar um pouco mais a identificação, dou-me maioritariamente com gente mais velha. Basta-me olhar à minha volta para me surgirem logo vários exemplos que o corroboram.
Quando comecei a trabalhar nesta empresa, com colegas equivalentes a mim, achei que seria, naturalmente, com eles que me daria mais, com quem partilharia experiências de estudo e trabalho, sobretudo por trabalharmos na mesma sala e por conhecermos as mesmas pessoas. Contudo, o que constato agora é que, por uma sucessão encadeada de enormes acasos, dei por mim a dar-me e a identificar-me cada vez mais com um grupo de gente que trabalha na outra ponta da empresa, numa área que em nada coincide com a minha e, para que o hábito não seja desonrado, tem pelo menos mais quatro anos do que eu.
O mais incrível é que, com tantas diferenças, com um fosso de idades que até podia tornar-se relevante, tendo em conta o estado da vida de algumas daquelas pessoas quando comparado com o da minha, sinto-me perfeitamente encaixada no meio deles, como se tivessem estado à minha espera e, ao ver-me, me tivessem puxado enquanto diziam "ah, cá estás, finalmente; ficas aqui, neste cantinho da imagem".
Não estou muito habituada a pertencer a algo, assim, logo à partida. E é essa uma das razões que me fazem encarar esta nova fase que acabou de começar com um ânimo que, de outra forma, não teria.

Tuesday, 3 December 2013

Balancé


Sofro demasiado por antecipação. Não é uma coisa de agora, não aconteceu nada para que tenha passado a ser assim, simplesmente é, desde muito cedo. Sou capaz - e não são raras as vezes em que tal acontece - de dar por mim a chorar (não desalmadamente, mas a verter algumas lágrimas dolorosas) ao pre-sentir aquilo que sentirei se/quando alguma coisa acontecer. E essa coisa pode até nem acontecer.
Acontecia-me isto com a aproximação de um exame importante, aconteceu-me com a chegada da data da defesa do relatório, acontece-me com as entrevistas de emprego e com a possibilidade de ficar, por uma semana que seja, afastada do meu marido.
Uma pequena possibilidade começa a moer-me a cabeça e o corpo, não me larga, impede-me de a abandonar, deixo-a crescer de tal modo que dói por dentro e por fora. Antecipo tudo o que vai correr mal, tudo aquilo que poderia ter e que vou deixar de ter, imagino as responsabilidades e preocupações que não tinha e que vou passar a ter e é assim que acordo e me deito, enquanto essa indecisão durar.
Talvez fosse este o primeiro aspeto que alteraria em mim, se uma fadinha mágica me surgisse à frente com três desejos para me conceder.
Por outro lado, também sou menina de, perante a possibilidade de algo bom vir a ter lugar, embandeirar em arco e assumir que tudo vai correr não bem, mas da melhor maneira impossível. Crio expectativas brutais, daquelas tão elevadas que causam vertigens, e vou, assim, alimentando os meus dias de ilusões.
Talvez este fosse a segunda alteração que pediria à fadinha: deixar-me de extremos e saber encontrar um ponto de equilíbrio para tudo.

Saturday, 23 November 2013

Delícias de um fim de tarde


Ser a primeira a chegar a casa, enroscar-me no sofá e em duas mantas com uma caneca de uma qualquer bebida quente a ler um livro no silêncio, sem televisão, sem rádio, sem vozes. Só com o mundo lá fora, ao longe, apressado, alheio a mim.
Sou um pouco fascinada por essa ideia de ser possível não haver uma única pessoa para além de mim que saiba o que estou a fazer e no que estou a pensar. Gosto da liberdade e da sensação de conhecimento único que esse pensamento me confere.

Friday, 6 September 2013

Olhos nos olhos


Tenho vindo a reparar numa idiossincrasia minha que pensava ser uma mera característica comum a todos os seres humanos. Sempre que tenho uma conversa com alguém, não olho a outra pessoa nos olhos. Em vez disso, olho-lhe para o nariz, precisamente para o ponto de junção dos dois olhos.
Já tinha notado nos muitos dos meus longos cafés com uma das minhas melhores amigas e tinha-me apercebido disso com um amigo que tenho desde criança. Entretanto andei atenta a esta particularidade e verifiquei que o faço com a minha família e mesmo com o meu marido.
E toda esta problemática tomou novas proporções quando no outro dia fui encontrar-me com a autora de um blog que leio e, quando dei conta, estava com os olhos postos no nariz dela. Ergui-os para ver se ela estaria a fazer o mesmo, mas vi que olhava diretamente para os meus olhos.
Pensei que sou estranha, que devia agir como uma pessoa normal, por isso, enquanto falava e enquanto a ouvia, pus os meus olhos nos dela e senti-me super desconfortável, porque me parecia que estava a invadi-la.
A minha problemática é exatamente essa, talvez um pouco inspirada nos óculos de sol permanentes do Pedro Abrunhosa: olhar para os olhos de alguém quando esse alguém tem os olhos postos nos meus dá-me a sensação de entrar numa dimensão muito privada à qual não tenho o direito de aceder. Só o faço quando o que vou dizer ou o que vou ouvir é algo muito sincero ou uma confissão íntima.
Já me convenci de que tenho de treinar as minhas aptidões sociais neste sentido, mas parece-me que tantos anos a desenvolver este hábito vão ser duros de contornar.

Saturday, 31 August 2013

Amoridade

Tenho uma relação cíclica de amor-indiferença com Lisboa, que começou há muitos anos, era eu uma criancinha com tios, primos, tios-avós e primos em vários graus a viver aí. Tanto que, quando chegou a altura de ir para a faculdade, quis ir estudar para a capital, sobretudo por causa das pessoas que me prendiam, e ainda prendem, a essa cidade.
Fiquei a estudar no Porto e, nos entretantos, fui dar um saltinho a Paris, cidade pela qual e onde me apaixonei perdidamente. Nunca vi cidade tão deslumbrante como esta (embora Sevilha seja uma concorrente à altura) e adotei-a como minha. Vim embora, mas deixei lá uma parte de mim.
Readaptar-me ao Porto não foi fácil, mas voltei a deixá-lo entrar no meu coração, abracei-o e mantenho-o junto a mim com um carinho imenso, alimentado por fotografias bonitas e luzes românticas refletidas num rio frio. Nesta altura, com o fim da faculdade e os primeiros empregos, uma parte dos meus amigos foi viver para Lisboa e arredores, o que me levou a voltar a acordar para ela, que esperara por mim depois do desencanto da adolescência. Visitei-a, vivi os seus dias e as suas noites alegres, aceitei as suas pessoas, tão diferentes das do Norte, mas esse sentimento manteve-se apenas um fraquinho, daqueles infantis confessados em papeizinhos dobrados, passados às amigas durante uma aula.
Até este verão. Duas semanas passadas entre o Estoril, Cascais, Sesimbra, Setúbal e Lisboa mostraram-me as suas praias, os seus parques e os seus jardins espalhados por todo o lado, com lagos e espaços verdes animados por concertos, bicicletas e vozes elevadas e o fraquinho aumentou exponencialmente até reencontrar uma paixão já não adolescente mas adulta e verdadeiramente sentida.
Agora, depois de tanto negar, não posso deixar de confessar que rapidamente me mudaria para a capital, com a certeza de que seria, provavelmente, muito feliz.

Saturday, 10 August 2013

Uma família


Há alturas em que penso que se calhar não tem assim tão mal se não vier a ter filhos, porque eu e ele já temos uma dinâmica tão nossa, tão intrínseca, que alterá-la pode não ser assim tão ideal. Já pensei que eu e ele sozinhos nos divertimos, temos tema de conversa que não acaba e somos felizes, pelo que não acrescentarmos mais ninguém à nossa família até pode ser algo positivo.
Mas depois de um jantar com a família toda reunida à volta da mesa, a relembrar com os meus irmãos os desenhos animados que víamos juntos, de manhã, e a rirmo-nos uns com os outros, tenho a certeza de que ter filhos é, sem dúvida, um passo importante que quero dar mais cedo do que tarde. Quero vê-los crescer e reunir a família toda à volta da mesa com noras, genros e cunhados, para vermos fotografias antigas, recordarmos tempos passados e falarmos alto, como sempre acontece. Como sempre quis.

Tuesday, 30 July 2013

Desconhecido


Às vezes temos um plano que, respeitado, conduz à realização de um grande objetivo. Sonhamos, idealizamos, projetamos e só nos falta um único passo, não dependente de nós, para alcançarmos aquele patamar surgido em nós, pronto para saltar para o resto do mundo.
Disponibilizamo-nos a correr o risco, a dar tudo de nós, a mostrar a nossa alma desnuda a um público que desconhecemos, mas é preciso que alguém ainda faça alguma coisa. Fazemos, então, uma pausa necessária, adiamos o OK enquanto esperamos por um papel, um carimbo, uma autorização. Ainda falta, vai demorar. Não há pressa, porque o receio, a vergonha e a incerteza são, muitas vezes, a meta final. Mas a culpa não é nossa, porque uma outra pessoa qualquer, que não conhecemos, é responsável por antecipar a linha de chegada e por mudar o trajeto inicialmente pensado.
É uma justificação fácil para nós e para os outros que vão inquirindo, pedindo e querendo resultados. A culpa não é minha.
Mas eis que finalmente chega a carta com a autorização dada, eliminando todo e qualquer obstáculo que ainda houvesse, abrindo caminho para a meta real. O problema passamos a ser nós e a nossa consciência de que um passo em frente irá expor-nos perante nós mesmos e perante o desconhecido, sem que possamos prever o tipo de receção de que seremos alvos.
Está na hora de decidir: um passo cego em frente, ou prolongar
a paragem para descansar, arrefecer os músculos e, talvez, desistir?

Tuesday, 16 July 2013

Sven importado da Colômbia


O Sven do ano passado veio da Colômbia para estar no meu casamento. Gostou tanto que aproveitou a mega viagem para andar a conhecer um bocadinho mais da Europa e para reviver o São João, que já tinha conhecido.
No entanto, amanhã é o último dia dele cá e não sei se alguma vez voltarei a vê-lo, embora espere que sim, que gostava de conhecer a Colômbia (até porque ele me dá alojamento em duas cidades).
Isto de aceitar filhos adotivos em casa durante um ano é muito giro, muito divertido e permite conhecer várias culturas diferentes e, vá, ter estadia gratuita em várias partes do mundo. Para além disso, é obviamente uma ajuda enorme para os alunos de intercâmbio, que só podem ter essa experiência se tiverem uma família que os acolha no país para onde querem ir. Ainda assim, não sei se alguma vez irei fazer uma coisa destas porque assim que o ano acaba e eles vão embora, começam as saudades. E, enquanto que se forem aqui de Espanha é fácil manter o contacto, quando são do outro lado do Atlântico a coisa complica-se e é preciso que haja um casamento para que nos vejamos novamente.

Tuesday, 2 July 2013

Carrologia

Foto daqui
Carros não são a minha especialidade, na medida em que não sei avaliar o motor, a cilindrada ou os cavalos. Pouco mais sei medir do que o conforto, se me permite ver a estrada e se, obviamente, a aparência e a cor me agradam. Mas, de resto, nunca tive de escolher um carro. O único que me passou para as mãos foi deixado pelo avô do meu marido e ele já andava com ele quando o conheci. É um Nissan Primera de 92, escuro, comprido à frente e a trás (mais do que eu gostaria) e, acima de tudo, fiável. Tem 21 anos e durante estes cinco em que tenho andado com ele nunca deu problemas, tirando uma ou outra coisa insignificante.
Há marcas nossas nele a comprovar a nossa relação, como da vez em que o portão do estacionamento da faculdade veio contra ele, ou da vez em que as colunas do estacionamento do supermercado se meteram no caminho, ou da vez em que a coluna da garagem não se desviou.
Mais tarde ou mais cedo vou ter de separar-me dele, não só porque, em princípio, não vai durar para sempre (desconfio que até vai), mas também porque vou querer algo mais adequado a crianças e carrinhos e cadeirinhas. Tenho dois carros de eleição: o Beatle e o Citroën C3 pluriel, embora nunca venha a ter nenhum dos dois por só terem dois lugares atrás e uma vez que cheguei àquela fase da vida em que não consigo pensar mais à frente sem colocar crianças aqui e ali. O problema é que os carros de hoje têm cada vez mais mariquices e, consequentemente, mais avarias: são os que não precisam de chave e os que fazem x, y e z automaticamente e vai-se a ver e tudo isso avaria e é uma chatice, porque ao fim de um ano o carro tem de ficar internado na garagem durante umas semanas e transtorna-nos a vida toda.
Talvez mais do que do atual, só gostei do Opel Corsa vermelho do meu pai, porque não tinha cintos nos bancos de trás, mas não durou muito tempo e foi substituído por um maior e, obviamente, com cintos.
Hoje lembrei-me que o meu fiel carrinho não pode entrar em Lisboa e apercebi-me de que é bem provável que venha a ter cada vez mais limitações, porque um ano de carro equivale a muitos anos e a muitos quilómetros feitos, a embraiagens estragadas e a pneus gastos e acho que isso facilita um bocadinho a aceitação de que, provavelmente, até ao final desta ano vou deixar de ter uma relação tão próxima com ele como a que tenho agora.
Nem sempre seguimos rumos compatíveis, mas espero que ele ainda ande por cá mais alguns anos para fazer um bocadinho mais parte da família e pertencer, também, um bocadinho à terceira geração que, um dia, virá.
Foto daqui