Tenho uma relação cíclica de amor-indiferença com Lisboa, que começou há muitos anos, era eu uma criancinha com tios, primos, tios-avós e primos em vários graus a viver aí. Tanto que, quando chegou a altura de ir para a faculdade, quis ir estudar para a capital, sobretudo por causa das pessoas que me prendiam, e ainda prendem, a essa cidade.
Fiquei a estudar no Porto e, nos entretantos, fui dar um saltinho a Paris, cidade pela qual e onde me apaixonei perdidamente. Nunca vi cidade tão deslumbrante como esta (embora Sevilha seja uma concorrente à altura) e adotei-a como minha. Vim embora, mas deixei lá uma parte de mim.
Readaptar-me ao Porto não foi fácil, mas voltei a deixá-lo entrar no meu coração, abracei-o e mantenho-o junto a mim com um carinho imenso, alimentado por fotografias bonitas e luzes românticas refletidas num rio frio. Nesta altura, com o fim da faculdade e os primeiros empregos, uma parte dos meus amigos foi viver para Lisboa e arredores, o que me levou a voltar a acordar para ela, que esperara por mim depois do desencanto da adolescência. Visitei-a, vivi os seus dias e as suas noites alegres, aceitei as suas pessoas, tão diferentes das do Norte, mas esse sentimento manteve-se apenas um fraquinho, daqueles infantis confessados em papeizinhos dobrados, passados às amigas durante uma aula.
Até este verão. Duas semanas passadas entre o Estoril, Cascais, Sesimbra, Setúbal e Lisboa mostraram-me as suas praias, os seus parques e os seus jardins espalhados por todo o lado, com lagos e espaços verdes animados por concertos, bicicletas e vozes elevadas e o fraquinho aumentou exponencialmente até reencontrar uma paixão já não adolescente mas adulta e verdadeiramente sentida.
Agora, depois de tanto negar, não posso deixar de confessar que rapidamente me mudaria para a capital, com a certeza de que seria, provavelmente, muito feliz.
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