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In other words...

Friday 30 May 2014

Conversas ao acordar (3) / Morning conversations (3)

Vivo numa casa com quatro quartos, sendo cada um habitado por duas pessoas. Ainda assim, é muito raro cruzar-me com alguma delas.
Às 7h45 de hoje comentei, num daqueles comentários que só o sono acha pertinentes:

- Hoje cruzei-me com uma das nossas housemates.

Pergunta ele, já bem mais desperto do que eu (pelo menos era o que eu pensava):

- De manhã?

Eu:

- À noite não foi de certeza...

Thursday 29 May 2014

Paris - Londres / Paris - London


É quase impossível pedir a alguém que já esteve em Paris para que não estabeleça comparações entre Paris e Londres. São ambas duas grandes capitais europeias, emblemáticas, românticas, cosmopolitas, cheias de vida e de ofertas a todos os níveis. Como é natural, embora tente não o fazer, o meu cérebro acaba, inevitavelmente, por pô-las lado a lado.
Uma grande diferença de Londres em relação a Paris é que, embora ambas as cidades sejam habitadas e frequentadas por um grande número de estrangeiros, aqui em Londres ouço muito menos falar inglês (com sotaque europeu) do que ouvi/ouço falar francês em Paris.
Paris, neste aspeto, peca pela hospitalidade, bem sei. Não me senti alvo de qualquer espécie de estigma, provavelmente por saber falar francês, mas aqui, para além da vantagem da internacionalidade da língua, os locais estão à espera de, a qualquer momento, contactar com um estrangeiro, facto que aceitam com naturalidade, segundo me tem parecido.
A existência de pubs aqui não é novidade para ninguém, é certo, pelo que se pressupõe que, tal como acontece em Paris com as happy hours no centro, as pessoas gostam de se reunir depois do trabalho e ao fim de semana para beber um copo. Uma vez mais, notei uma diferença brutal entre as duas cidades: se em Paris se viam praticamente só jovens (estudantes de Erasmus, sobretudo) bêbedos ao ponto de andar aos S, em Londres vê-se todo o tipo de gente, de todas as faixas etárias e sociais a cair de bêbeda às 17h de uma quinta-feira, por exemplo (algo que ainda me mete bastante confusão).
Suponho que não se limite a Paris/Londres, mas já tinha reparado e tenho reparado agora que a diferença, quer numa quer noutra, é tratada como se fosse banal. Quando fui à entrevista para o National Insurance Number, fui atendida por um rapaz de crista e piercing no nariz, enquanto na mesa ao lado estava uma senhora vestida com um fato de saia e casaco. Gosto disso, de haver uma multiplicidade de aspetos e personalidades e todas elas se cruzarem numa harmonia quotidiana.


Wednesday 28 May 2014

Ginásio / Gym

Hoje é o dia em que, já não sei quantos anos depois, vou pôr os pés num ginásio. Durante anos fiz ballet três vezes por semana, que complementava com wakeboard no verão. Entretanto abandonei o primeiro, com alguns sustos seguidos deixei o segundo há dois anos e limitei-me a alguns exercícios de pilates em casa. Por fim a preguiça venceu-me e dediquei-me apenas a andar a pé e a subir escadas, mesmo as rolantes.
Não gosto de ir para o ginásio para as máquinas só com o objetivo de tonificar/emagrecer. Gosto, sim, de aulas, com pessoas, com música, com um objetivo mais concreto. Inscrevi-me, então, num ginásio em Swiss Cottage, bastante perto da casa onde estou agora. Embora a um preço ainda elevado, é dos mais baratos que vi e tem a vantagem de não ter tido de me comprometer a frequentá-lo durante seis meses ou um ano.
Vou começar com uma aula de pilates e, se amanhã não estiver mais morta do que viva, arriscar numa aula de dança.

Tuesday 27 May 2014

Viver em Londres... / Living in London...

... É entrar num T1 pequeno, mas com quarto, sala, cozinha e casa de banho e pensar Quem me dera...!


... Is going inside a small appartment with a bedroom, a living room, a kitchen and a bathroom and thinking I wish...!

Thursday 22 May 2014

Ser londrina / Being a Londoner


É quinta feira ao final da tarde e as ruas de Londres estão a encher-se de bêbedos. Uma das coisas em que reparei - com alguma repugnância, confesso - quando cá vim da outra vez foi precisamente o facto de as pessoas beberem como loucas.
Nos passeios e à frente das casas, acumulam-se os sacos de lixo do dia, porque, por uma suposta questão de segurança, não há contentores nem se faz reciclagem.
Durante o dia trovejou, à tarde esteve um sol radiante e agora chove novamente.
Sou mais uma de muitos estrangeiros a viver nesta cidade e, pouco a pouco, vou reconhecendo as ruas à minha volta. Começo a sentir-me pronta para isto.

Wednesday 21 May 2014

Foi assim que me vesti (11) / How I met my day (11)



Hoje fui tratar de me tornar legal neste país, numa entrevista obrigatória para obter o National Insurance Number.
Os sapatos foram gabados pela rapariga do cabelo cor de rosa a quem pedi direções... quando passei pela estação de metro sem a ver e me perdi.


Today I had my NINo appointment, in Camden Town, in order not to be an illegal person in this country.
The pink hair girl I asked for directions... when I passed by the overgroung station without seeing it loved my shoes. And she told me that.

Auto retrato (11) / Self portrait (11)

Se pudesse, pintava a minha vida toda de cor de rosa, perfumava-a com o aroma a fruta fresca e sentava-me a observá-la enquanto comia um pote de nutella às colheradas.


If I could, I would paint my hole life in pink, spray it with fresh fruits scent and admire it while I ate a jar of nutella with a small spoon.

Tuesday 20 May 2014

Casa / Home




Em toda esta mudança, tenho pelo menos três grandes dificuldades que espero conseguir ultrapassar ou, pelo menos, habituar-me a elas. A primeira é, obviamente, o ter deixado para trás algumas pessoas que fazem inteiramente parte da minha vida. É verdade que há chats e mensagens e tudo mais, mas não é a mesma coisa e vivo constantemente com medo de ser esquecida ou posta para canto.
A segunda prende-se com trabalhar a partir de casa. Para algumas pessoas pode ser um conforto enorme, mas para mim, que preciso de gente à minha volta, é demasiado angustiante passar o dia todo sem ter ninguém com quem falar, especialmente numa cidade onde não conheço ninguém.
A terceira é ainda relativa à casa: neste momento estou a viver num pequeno quarto, numa casa partilhada com várias pessoas, onde a única área comum é uma pequena cozinha. Não sei quanto tempo mais estarei aqui, mas o melhor, para me sentir um bocadinho em casa, foi mesmo passar parte do dia de ontem a comprar coisas para a casa, nas tonalidades do meu quarto do Porto. Só porque acalento o sonho de um dia para lá voltar.
E pouco a pouco, este cantinho está a tornar-se um bocadinho meu, cheio de tralha bem arrumadinha (ao menos posso tentar melhorar nesta área).



Sempre a fazer amigos / Connecting people

Ontem fui ao supermercado com o meu marido abastecer-me de coisas úteis para a casa, nomeadamente uma faca de cozinha e duas pinças pequenas para servir salada.
Na caixa, a mulher, com um ar de quem estava a fazer o maior frete no mundo, pegou nas pinças, observou-as o tempo necessário para decorar a Mona Lisa, rasgou um sorriso e comentou o quão giro e útil aquilo era. Entretanto, o homem metia as tralhas no saco e ela não olhava sequer para ele.
Passou a faca e perguntou-me a idade. Disse-lhe um número mais perto dos 30 do que dos 20.
- Tens a certeza?! É que pareces bem mais nova... Nem sequer parece que andas no secundário. Talvez na primária. Tinha de perguntar isto por causa da faca...
Lancei-lhe um obrigada pelo elogio, mas ela não captou o sarcasmo. Continuou a perguntar-me a minha vida toda, o que faço, de onde sou, que línguas falo... e ele a ensacar as compras.
A certa altura lá perguntou:
- E ele, é da mesma área de negócios que tu?
E ele, a ensacar, nem uma palavra, até porque a pergunta era para mim.
No final, ainda perguntou se tínhamos filhos.
Foi preciso chegar a Londres para ter uma funcionária da caixa do supermercado a preocupar-se tanto comigo, com medo de que fosse auto-esquartejar-me com uma faca de cozinha.

Monday 19 May 2014

Primeiros momentos em Londres / First moments in London

Ao sair do comboio, no caminho para casa, o suporte das rodas de uma das nossas quatro malas desfez-se no meio da rua. Um típico gentleman que ia a passar por nós abrandou, olhou com um ar superior de infelicidade fingida e comentou:
- Que pena... É por isso que eu não saio do meu país, porque coisas destas acontecem.
Uns passos mais à frente voltou-se para trás e continuou:
- As pessoas não devem sair do sítio onde foram postas. Se não saíssem, estas coisas não aconteciam.
Seguiu viagem e nenhum de nós disse nada. Rimo-nos e lá arrastamos a mala da melhor maneira possível.
Tem sido uma aventura aterrorizante, esta de deixar tudo para me mudar, ainda que não seja para demasiado longe. Mas tenho pena de quem pensa assim. Se eu me tivesse ficado pelo que era mais fácil, nunca teria conhecido pessoas incríveis, nunca teria experimentado coisas fantásticas, nem teria vivido momentos inesquecíveis.

Sunday 18 May 2014

Foi assim que me vesti (10) / How I met my day (10)


Foi assim que abandonei a minha cidade para me mudar para aquela onde viverei durante os próximos tempos. Para já ainda não a sinto como minha, ainda não sei quanto tempo demoraremos a entender-nos nem de quanto tempo precisarei para acalmar a minha paixão por aquela que deixei. Mas achei que uma saia esvoaçante e um top de verão, combinados com uns dos saltos mais altos que tenho, eram uma boa combinação para que a mudança corresse bem.


This is how I left my city, in order to move in to the one I will live in the near future. Right now, I don't feel it like it is mine, I still don't know how long it will take for us to get along nor how long I will need to calm the passion I feel for the one I left behind. But I thought that a flowing skirt and a summer shirt, along with a pair of one of my highest heels, were a great match for this move to go well.

Monday 12 May 2014

Auto retrato (10) / Self portrait (10)

Sou uma sonhadora. É o que dizem.
Ou isso ou tenho a mania de ter expectativas demasiado altas.
Ainda assim, é o sonho que comanda a vida.




I'm a dreamer, they say.
Or, maybe, I tend to raise my expectations too high.
Still, life is ruled by dreams.

Despedidas / Saying goodbye

Comecei a manhã de hoje a meter as primeiras roupas na mala e o nó que já tenho na garganta nos últimos dias intensificou-se, enchendo-me os olhos de lágrimas que forcei a ficarem no lugar porque já chega disso. Ainda não consegui desfazê-lo, cá continua, aliado a um bater do coração forte como nunca o ouvi e a um aperto no estômago que diz que por aqui já não passa mais alimento nenhum.
Como é que me despeço das pessoas que vou deixar indefinidamente? Até já? Não te esqueças de mim? Vai dando notícias? Não te esqueças de mim? Vai visitar-me? Não te esqueças de mim?
À boa maneira portuguesa, vamo-nos reunindo à volta de mesas cheias de boa comida, com música à mistura, vamos dizendo piadas e falando do assunto como se estivesse ainda a uns meses de distância.
Estava, é verdade. Há uns tempos. Entretanto o tempo voou e dentro de seis dias mudo de país e deixo cá uma grande parte de mim.
Não sei como vou despedir-me, mas o raio das lágrimas continua a querer vencer-me.

Monday 5 May 2014

Maio / May

Maio é o nosso mês: começamos a namorar no início e casamos no final.
Maio é o mês dos casamentos na minha família: até agora, na minha geração, ainda só houve o do meu irmão e o meu, e vai haver o da minha prima no sábado, todos em maio.
Maio é o mês em que nasceu a minha única irmã.

Este ano, maio é o mês em que a minha vida vai ser virada completamente do avesso, em que vou abandonar praticamente tudo aquilo que conheço, sair do meu conforto, dos braços das minhas pessoas, da estabilidade e mandar-me para Londres, onde ele me espera há alguns meses.
Ando a balançar entre o entusiasmo e o pânico. Mas é maio. Maio resolve tudo.

Sunday 4 May 2014

Auto retrato (9) / Self portrait (9)


Sou das poucas mulheres que não gosta de receber flores. Para além de rosas vermelhas não há nenhuma que ache particularmente bonita, é preciso tratar delas e morrem passado pouco tempo.
Prefiro receber uma cesta cheia de fruta, por exemplo: é bonita, colorida, cheira bem, não tenho de tratar dela e posso comê-la.