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Tuesday, 20 May 2014

Sempre a fazer amigos / Connecting people

Ontem fui ao supermercado com o meu marido abastecer-me de coisas úteis para a casa, nomeadamente uma faca de cozinha e duas pinças pequenas para servir salada.
Na caixa, a mulher, com um ar de quem estava a fazer o maior frete no mundo, pegou nas pinças, observou-as o tempo necessário para decorar a Mona Lisa, rasgou um sorriso e comentou o quão giro e útil aquilo era. Entretanto, o homem metia as tralhas no saco e ela não olhava sequer para ele.
Passou a faca e perguntou-me a idade. Disse-lhe um número mais perto dos 30 do que dos 20.
- Tens a certeza?! É que pareces bem mais nova... Nem sequer parece que andas no secundário. Talvez na primária. Tinha de perguntar isto por causa da faca...
Lancei-lhe um obrigada pelo elogio, mas ela não captou o sarcasmo. Continuou a perguntar-me a minha vida toda, o que faço, de onde sou, que línguas falo... e ele a ensacar as compras.
A certa altura lá perguntou:
- E ele, é da mesma área de negócios que tu?
E ele, a ensacar, nem uma palavra, até porque a pergunta era para mim.
No final, ainda perguntou se tínhamos filhos.
Foi preciso chegar a Londres para ter uma funcionária da caixa do supermercado a preocupar-se tanto comigo, com medo de que fosse auto-esquartejar-me com uma faca de cozinha.

Monday, 19 May 2014

Primeiros momentos em Londres / First moments in London

Ao sair do comboio, no caminho para casa, o suporte das rodas de uma das nossas quatro malas desfez-se no meio da rua. Um típico gentleman que ia a passar por nós abrandou, olhou com um ar superior de infelicidade fingida e comentou:
- Que pena... É por isso que eu não saio do meu país, porque coisas destas acontecem.
Uns passos mais à frente voltou-se para trás e continuou:
- As pessoas não devem sair do sítio onde foram postas. Se não saíssem, estas coisas não aconteciam.
Seguiu viagem e nenhum de nós disse nada. Rimo-nos e lá arrastamos a mala da melhor maneira possível.
Tem sido uma aventura aterrorizante, esta de deixar tudo para me mudar, ainda que não seja para demasiado longe. Mas tenho pena de quem pensa assim. Se eu me tivesse ficado pelo que era mais fácil, nunca teria conhecido pessoas incríveis, nunca teria experimentado coisas fantásticas, nem teria vivido momentos inesquecíveis.

Wednesday, 23 April 2014

Mudez / Unsaid



Quem fala arrisca-se a ouvir aquilo que não quer, a não ouvir aquilo que quer ou, pior, a não ouvir nada. E o silêncio das palavras escondidas por qualquer razão é das sensações que mais custam.
Ainda assim, prefiro não deixar nada de importante por dizer. Afinal, de um momento para o outro tudo pode mudar.

Thursday, 20 March 2014

Sensações desagradáveis / Terrible feelings

Haver alguém a fazer-me sentir terrivelmente mal por algo que estou a fazer bem. Fico incomodada para o resto do dia.

Sunday, 19 January 2014

Espírito crítico

Nas últimas semanas, a praxe tem sido um tema de conversa recorrente e, tal como muitos temas polémicos, arrasta fundamentalismos de quem a defende e de quem a repele acerrimamente.
A minha experiência com a praxe foi para esquecer. Ia com uma ideia interessante do que aquilo seria, imaginava um conjunto de atividades divertidas que nos guiavam na entrada no ensino superior e que nos ajudavam a estabelecer laços de amizade com gente que nunca na vida tínhamos visto e que ia partilhar os nossos dias durante os próximos anos, que, no entanto, se revelou o oposto: uma seca, sem piada nenhuma e cheia de humilhações.
Um dos princípios da praxe parece-me muito bom: somos todos iguais, não há ricos, pobres, inteligentes, burros, bonitos ou feios. Mas nunca se levado ao extremo, porque, na verdade, não somos todos iguais. Lembro-me de ter uma colega a lutar contra o cancro no pulmão e, no meio de uma data de gente que ela não conhecia, um idiota qualquer que se achava dono de um poder absurdo, perguntou-lhe se ela estava bem. Após ela ter assegurado que sim, ele atirou-lhe com um por mim até podias cair aí para o lado, que eu não me importo.
Tentaram fazer-me ver que ele só disse isso porque na praxe não pode haver preocupações, um doutor não pode preocupar-se com um caloiro. Em certa medida, compreendo essa ideia, mas uma coisa é seguir as regras da praxe, a outra é ser-se um bronco sem capacidade de discernimento.
Deixei de ir à praxe depois de assistir a cenas absurdas, de recusar sessões porque tinha aulas e tentarem obrigar-me a faltar, depois de não concordar minimamente com a praxe do meu curso e da minha faculdade, nem com o seguir cego e ignorante de todas as regras levadas ao extremo. No entanto, sei que há, noutras faculdades, praxes interessantes, feitas por gente normal, sem abusos de um poder imaginário. Sem o culto da burrice.
Mas o que me tem incomodado sobretudo é que, perante uma associação inevitável da história do Meco à praxe, haja sempre alguém que diga, sem pensar duas vezes, que as pessoas não são obrigadas a nada e que só fazem aquilo que querem.
Não é verdade e ao longo dos anos tem havido imensos casos que o comprovam. É impossível esquecer a força que tem a vontade do grupo, o facto de uma pessoa ser posta à frente de uma multidão e forçada a fazer qualquer coisa que não quer. Não é fácil dizer que não, encarar os risos, o gozo, os comentários dos outros que, unidos, são muito mais fortes do que aquele indivíduo isolado que não quer ser ostracizado.
Seja na escola, na praxe ou no trabalho, uma pessoa não faz sempre aquilo que quer. E só acredita nisso quem nunca passou por uma situação em que quis dizer que não e teve de dizer que sim, ou em que um não lhe custou alguma coisa.

Tuesday, 10 December 2013

Recados na net

Já todos nós tivemos vontade de escrever - e se calhar fizemo-lo mesmo - um bilhete ao vizinho de cima que martela com os sapatos no chão ao chegar a casa (ao melhor estilo do Bocage das anedotas), ou à vizinha que estaciona o carro tão colado ao nosso que nos obriga a entrar pela mala.
Sim, porque embora prefira a segurança de um prédio à de uma moradia, tenho preferência por vizinhos mudos e tetraplégicos.
Ao que parece, a moda dos post-it's na janela do carro ou no espelho do elevador é demasiado século XX, já ninguém usa. É o Hi-5 das vizinhanças, que foi visivelmente substituído pelo facebook destas andanças: os recados nas redes de net. Normalmente atribuímos à nossa net caseira um nome que nos ajude a identificá-la melhor do que os códigos que vêm de origem, tal como Marta e André, ou HeloKitty91. E há quem, para fazer as suas queixas, as escreva nesse campo do id.
Ora vão lá ver se não encontram na lista de redes disponíveis uma chamada a vizinha do 4ºD urra, não ri, ou os vizinhos do 6ºG já faziam terapia, ou, até, no 1ºEsq às 3ªas feiras às 21h15....
Para mim não funciona, que vou direita à minha sem prestar atenção às outras, mas um dia ainda tenho um amigo a tentar aceder à minha net no telemóvel e a entrar um bocadinho mais na minha intimidade.
Talvez seja essa a eficácia do método.

Tuesday, 12 November 2013

Recordações


Quando andava no secundário tive como professora de francês a pessoa mais amargurada que já conheci e, penso, que alguma vez conhecerei. Uma velhota baixinha, de ideias conservadoras, que vi sorrir apenas uma vez em três anos. A cabeça oscilava-lhe involuntariamente da esquerda para a direita, sempre sem parar num ritmo de ponteiro de segundos, encerrando memórias rancorosas de uma vida de infelicidade começada, segundo se conta, no dia em que foi abandonada no altar.
Lembro-me da minha desilusão quando, já não sei a propósito de quê, lhe disse que tinha dois grandes sonhos: estudar na Sorbonne e ver uma versão de um livro meu adaptada para cinema; e ela me respondeu ao primeiro que seria praticamente impossível, de tão exigente que essa instituição é (acabei por frequentá-la durante um ano), e ao segundo que, para isso, precisava de, antes disso, ser um best-seller (em primeiro lugar falta, até, ser publicado).
Também me recordo do entusiasmo com que recebi a notícia da intenção dela de se reformar, só para voltar às aulas no ano seguinte e dar de caras com ela e com todo o desalento que tal representava.
Nunca gostei dela, pouco retirei do que me ensinou, apesar de adorar a língua francesa, pois se se teme que nos ensina, nada se aprende. Contudo, houve sempre uma parte de mim que quis voltar a vê-la, perceber se evoluiu como pessoa, se o rancor lhe escapou, permitindo-lhe viver o que lhe resta.
Acho que a vi hoje de manhã no autocarro: uma velhota embrulhada no familiar sobretudo castanho (nunca lhe vi mais nenhum), de rosto frio com uma expressão carrancuda. Prestei mais atenção e ali estava ele: o movimento tão típico de oscilação da cabeça.
Fui a viagem toda com a certeza de que era ela, igual ao que sempre fora, até que uma rapariga entrou, falou com ela e... fê-la sorrir. Para mais, não era uma rapariga de aspeto nada convencional, com o cabelo desarranjado, roupas práticas, piercing no lábio e uma tatuagem no pescoço. Exatamente o tipo de pessoa que a versão que eu conheci dela reprovaria.
Conversaram, riram e saíram juntas como se tivessem, de facto, planos.
Isso fez-me questionar se uma mulher que guardou, durante a maior parte da sua existência, todas as traições da vida e que viveu ao sabor delas, conseguiu deixar que alguém a reconquistasse e aprender, novamente, a viver dias diferentes daqueles de infelicidade pura.
Se não tiver sido ela, penso como será possível a única memória que uma pessoa guarda da sua passagem pelo mundo ser uma sequência turbilhonante de desamores, inspirados por aquele maior, aquele primeiro, que para sempre a condenou.

Friday, 18 October 2013

Fosso de gerações


As gerações mais antigas, aquelas que têm agora entre os quarenta e os sessenta anos, gostam de empenhar o seu tempo a maldizer as gerações mais novas, desprovidas de educação e de formação, únicas responsáveis por todo o mal deste mundo.
Eu sou um membro de uma destas gerações mais recentes, destas que estão algures no meio da cronologia, sobre as quais recaem as críticas sábias dos mais velhos. Também eu sou testemunha de que num cruzamento entre novos e velhos, só os segundos se dirigem a mim não com simpatia, mas com comentários lascivos de fazer envergonhar qualquer pessoa que os ouça. Não tenho o hábito de responder. Em vez disso, olho para baixo ou para o lado e finjo que não ouço.
No entanto, há uns dias, ao chegar à passadeira cruzei-me com um senhor dos seus sessenta anos, com bom aspeto, que me falou:
- Olá, Maria.
Fiquei surpreendida, mas segui, até que voltei a ouvi-lo:
- Estás boa?
Só isto não tem problema quase nenhum, aparte tratar uma pessoa que não conhece de lado nenhum por tu. Mas foi o tom de voz, o mesmo dos trolhas que babam mal educadamente à porta de um café pelas raparigas que passam, desde que tenham rabo e pernas.
Virei-me para trás e perguntei-lhe:
- Isso era para mim? Conhece-me?
E o ar encavacado dele, apanhado e confrontado, deixou-me perceber que talvez as antigas gerações tenham ainda muito a aprender com as que tanto desdenham.

Monday, 7 October 2013

Uma coisa complicada

Dizer uma piada e toda a gente se rir, menos a pessoa a quem nos dirigimos, que fica à espera que nos expliquemos.
Dá vontade de manter a boquinha calada.

Thursday, 11 July 2013

Se tiver que ser, ao menos que valha a pena



O Rui Veloso também tem uma opinião sobre o assunto.

Traição: amor ou capricho

Ainda quanto ao tema traição, se algum dia tivesse de ser traída, preferia de longe ser trocada por uma relação a sério, um novo futuro para ele com alguém de quem gostasse mais do que gostava de mim. Não digo que ajudasse a ultrapassar a dor que, imagino, seria imensurável, mas, pelo menos, ajudava a racionalizar a troca que teria deitado por terra tudo o que houvesse entre nós. Contudo, sei que ele é da opinião de que se for para trair, ao menos que seja uma coisa de uma noite, sem importância, com um desconhecido, para que a relação tenha uma hipótese de se manter.
Alguém se manifesta?

Wednesday, 10 July 2013

Traição e confissão

Ontem cá em casa discutia-se a infidelidade. Mais do que isso, discutia-se se se deve ou não confessar uma infidelidade.
Eu sou da opinião (demasiado linear, eu sei) de que não se parte para a infidelidade sem antes falar com o namorado(a)/marido/mulher e explicar-lhe que nos andamos a sentir postos de lado, menos valorizados do que o normal e que, por isso mesmo, andamos a pensar em ir para a cama com alguém. Acho mesmo que não é impossível, de todo, tratar o mal logo ao princípio com uma conversa séria. Claro que, para isso, é preciso que a relação se baseie, à partida, na honestidade e na partilha franca e aberta.
No entanto, se tal não acontecer, não consigo conceber a ideia de uma pessoa trair aquela com quem tem uma relação e guardar isso para si. Já ele acha que confessar uma traição pode prejudicar muito e muita gente sem trazer benefícios nenhuns, porque apenas serve para tranquilizar a consciência de quem a cometeu, ao que eu respondi que não só isso dava carta branca a alguém (neste caso eu) para fazer aquilo que bem entendesse sem que para isso tivesse de se sentir mal, como cada pessoa tem de viver com as consequências dos seus actos. Se traiu, vive com o que daí advém.
Mais uma vez ele não concordou comigo, porque um caso pontual de uma noite e que já esteja dado por terminado pode destruir uma vida inteira de união, prejudicar os filhos do casal, se os tiver, e magoar quem não fez por isso. Enquanto que eu, por mais pontual que a coisa seja, não gostaria de que me fosse retirado o direito de decidir se queria continuar a lutar pela relação ou desistir dela, por ter sido tão cruelmente maltratada.
É um tema muito delicado, onde as regras são subvertidas e os direitos questionados, mas gostava de saber mais opiniões quanto a ele.

Friday, 21 June 2013

Noroeste e os nomes bizarros


Esta tendência de os pais famosos terem a mania de serem criativos com os nomes da descendência vai ser uma das grandes razões da delinquência juvenil, quando os bebezinhos fofinhos de colo chegarem à escola e forem enxovalhados por toda a gente devido ao nome que lhes calhou na sorte. Já estava na altura de se reformularem as regras da imaginação parental e limitar as escolhas e combinações de nomes possíveis a dar aos recém-nascidos.
Qual é o problema dos tradicionais Maria, Catarina, Pedro ou Tomás? Querem mais rebuscadinho? Rodrigo, Matilde, Tomé ou Beatriz. Na loucura, Carlota ou Martim.
Daqui a uns anos vamos ter as pobres das Leyonces e North Wests deste mundo a desejarem chamar-se algo tão simples como Ana e Amy, só para terem o prazer de terem algo de normal nas suas vidas. Mas não, ficam presas à mãe e ao pai que têm, mais ao nome que, em conjunto, por unanimidade, as duas cabecinhas escolheram.

Wednesday, 29 May 2013

Bizarrices no percurso casa-trabalho-casa


Certamente haverá algo em mim que atrai todo o género de pessoas e de situações, pelo que não há uma só semana em que saia de casa e chegue a casa ao final do dia sem que qualquer coisa de estranho tenha acontecido, como um acidente, uma conversa bizarra ou uma abordagem interessante.
Antes de mais é preciso ter em conta que eu sou uma versão humana da Bela, porque estou sempre a ler, mesmo enquanto subo as escadas rolantes e, normalmente, paro no passeio durante o tempo que for necessário até acabar de ler o parágrafo em que estou, para não me perder quando voltar a abrir o livro.
Acontece que mesmo assim não há nada que impeça uma variedade incrível de pessoas de me pedir informações relativas ao funcionamento intermodal. Ainda ontem uma senhora chamou-me porque queria saber como carregar o andante com uma viagem. Expliquei-lhe. No final queixou-se de que as moedas não entravam, o que faço? E ficou mesmo à espera que eu, uma mera utilizadora da rede de metro, fizesse magia e corrigisse o que estava mal. Sugeri-lhe que chamasse alguém e fui embora.
Mas não foi a primeira nem segunda nem sequer décima vez que tal me aconteceu.
Uma vez tive o prazer de ser o alvo dos resmungos de um senhor porque tinha comprado duas viagens para pessoas diferentes no mesmo andante e aquilo só dava um bilhete. Expliquei-lhe que cada pessoa tinha de ter um bilhete e ele passou-se, dizendo que não fazia sentido nenhum e que devia estar indicado em qualquer lado.
Outra vez uma senhora perguntou-me em que estação deveria sair. Expliquei-lhe duas ou três vezes como chegar ao destino dela e voltei para o meu livro. Entrei no metro e ela sentou-se ao meu lado a repetir a lenga-lenga do percurso. Entrou uma senhora para o banco do lado e a primeira perguntou-lhe onde ia sair para poder saber como fazer. Achei que o meu tempo gasto a explicar-lhe algo tão complicado tinha sido mesmo muito bem empregue.
Há umas semanas estava a sair do trabalho, apressada para apanhar o metro, e uma senhora perguntou-me onde podia apanhar a carrinha que ia para uma-terra-de-cujo-nome-nunca-tinha-ouvido-falar. Disse-lhe que não fazia a mínima ideia e fiz menção de continuar a andar. Ela voltou à carga com um não será aquela ali em cima? Respondi-lhe que era possível, mas que não fazia ideia e pus-me a andar.
Talvez o meu problema seja ter um ar simpático, que faz com que toda a gente chatinha ache que sou a melhor opção para uns dedos de conversa no mundo monótono do trabalho.

Friday, 22 March 2013

Portugal é dos pequeninos

Eu não tenciono ser do contra. A sério que não me alimento de ter opiniões que vão ao contrário da maré da opinião coletiva, mas não me choca nada, não me intriga, não me aborrece nem me revolta o facto de o Sócrates vir a ser comentador político. Afinal, o homem foi Primeiro Ministro de Portugal eleito pela maioria dos portugueses (eu não incluída) e mantém se ligado à política, por isso, embora tenha feito muitas asneiras, é mais do que natural que haja quem queira ouvir o que ele tem para dizer. Para além disso, o mundo precisa de opiniões diferentes para formar a sua própria.
Sei que estou sempre a dizer isto, mas paremos de nos chatear com tudo o que se vai passando diariamente, sim? Negatividade e pessimismo enjoam.

Friday, 8 March 2013

Dia da mulher


Regressei à superfície da Terra depois de uma última viagem de metro no final de uma longa semana e cruzei-me com uma rapariga que levava uma flor na mão. Mais à frente, uma senhora que parecia ter tirado o dia para ajudar o negócio dos Quefrô levava dois ou três botões de rosa. Ao virar a esquina que dá acesso à minha rua pousei os olhos numa flor de pétalas empinadas transportada por mais uma mão feminina.
Comecei a pensar que talvez alguém estivesse a oferecer flores a quem passava, provavelmente como manobra publicitária, mas foi então que reparei que todas as flores eram de tipos diferentes e cheguei à conclusão de que não: é apenas por ser dia da mulher.
Isto depois de me terem gritado parabéns!, como se tivesse acabado de atingir algum grande feito por meu próprio mérito.

Tuesday, 5 March 2013

O que é nacional nem sempre é mau


A propósito do vídeo do Turismo que anda a ser criticado por todo o lado, só consigo dizer que fui vê-lo já de pé atrás devido aos comentários tão desagradáveis que tinha lido previamente, mas acabei por gostar mesmo muito e não consegui vê-lo na perspetiva das mulheres fáceis nem dos criados obedientes.
A meu ver, demonstra apenas as qualidades por que os portugueses são conhecidos: simpatia, bom acolhimento e vontade de fazer com que toda a gente se sinta bem e em casa.
São críticas assim e vontades de ver as coisas de uma forma tão negativa que estragam tudo. E somos nós, os de dentro, os que deviam valorizar o que de positivo se faz e se tem por cá, os primeiros a denegrir tudo. Só porque sim. Só porque é mais fácil e mais divertido.

Wednesday, 30 January 2013

Sotôr!

Há uns tempos, aqui na minha zona, havia um pedinte que praguejava incessantemente algo como: por amor de Deus, mas ninguém me pode dar uma ajuda? Não era um praguejar baixinho, saído do desespero e da tristeza, mas uma súplica rude para todos aqueles que também têm a sua vida para ganhar, como se todos tivéssemos obrigação de lhe dar uns trocos, apenas porque nos cruzávamos com ele no caminho para o metro.
Ontem descobri um pedinte erudito que anda com um blazer vestido e que, tanto quanto vi, aborda apenas pessoas de cabelo grisalho/branco, tratando-as por sotôr ou sotôra, provavelmente numa tentativa de lhes transmitir alguma confiança, enquanto as persegue durante cem metros, mesmo depois de elas repetirem que não têm nada para dar.
Mas achei piada e fiquei intrigada com o local onde, eventualmente, o homem terá desencantado tamanha peça de vestuário.

Tuesday, 8 January 2013

Preconceito

Quando entrei para o mestrado identifiquei-me rapidamente com uma colega minha, cerca de 6 anos mais velha do que eu, com quem comecei a dar-me bem logo no início. A certa altura estávamos numa sala a estudar e eu que, no meu direito, tinha o facebook ligado à minha frente, ouço-a subitamente a perguntar, em êxtase, ao mesmo tempo que espreitava para o ecrã:
- És da família do X?
Durante uns instantes não percebi como é que ela conhecia um familiar meu e foi então que me lembrei que, por causa da profissão que tem, ele aparece regularmente na televisão. É algo que não me ocorre todos os dias, nem todos os meses e, embora tenha muito orgulho nele, não uso esse facto para impressionar ninguém.
Ela continuou:
- Eu adoro-o, ele é espetacular, é o meu ídolo. Adorava conhecê-lo e bla bla bla.
Em dezembro, quando fiz anos, convidei-a e a mais três ou quatro pessoas para virem jantar a minha casa. Nada de especial, tudo muito familiar. Ela perguntou-me o que é que eu queria que ela levasse e sugeri-lhe o doce de não sei o quê (oreo, talvez), de que ela estava sempre a falar.
Abri-lhe a porta, mostrei-lhe a casa, apresentei-lhe o meu namorado e a conversa foi bastante animada até que uma grande amiga minha chegou e me deu um telemóvel. Não desfazendo, não era um blackberry nem nada parecido e custou, no máximo, 20€.
Uns segundos depois recebo uma mensagem que dizia algo como:
«Olá babe, já cheguei, mas já estou arrependida de ter vindo.»
Estava à espera de uma amiga minha, por isso levei algum tempo até perceber que tinha sido a minha colega que me tinha mandado, por engano, a mensagem que era para o namorado.
Durante a noite toda fingi que nada se tinha passado e quando já toda a gente tinha ido embora ela disse-me:
- Estou tão envergonhada com aquela mensagem... É que tu és da família do X, os teus amigos dão-te telemóveis, tens imensa roupa (ela pediu-me para ver o meu armário) e a única coisa que eu te trouxe foi um doce.
Fiquei parva, mas lá lhe disse que tinha gostado imenso da sobremesa dela e que não tinha mal nenhum, que percebia que se tivesse sentido mal, embora não tivesse razões para isso.
Durante os meses que se seguiram tentei (quando nem sequer fui eu quem errou) fazê-la sentir-se bem ao meu lado, mostrando que não me acho superior nem nada. Pouco tempo depois, cortou relações comigo.

Já não foi a primeira vez que senti esse tipo de preconceito em relação a mim, vindo de gente que, não sei muito bem porquê, se sente intimidada ao meu lado pelo facto de eu sempre ter vivido no centro do Porto  ou por algo assim do género que não é propriamente mérito meu.
E é um bocado por causa de gente como esta que, quando conheço alguém, sou bastante desconfiada e demoro algum tempo até abrir um bocadinho da minha intimidade.

Monday, 7 January 2013

Amigos virtuais


Tirando o meu melhor amigo, que conheci praticamente quando ainda usava fraldas, demorei cerca de vinte anos até encontrar amigos a sério, daqueles que ficam para a vida, que são padrinhos no nosso casamento e que serão, eventualmente, padrinhos dos nossos filhos. Agora somos um grupo de oito. Metade está cá, a outra metade está fora. Como é normal, não nos damos todos iguais e tenho mais afinidades com alguns do que com outros mas, ainda assim, somos uma família.
No entanto, como disse, nem sempre foi assim, como é bastante normal. Em adolescente oscilava entre muitos e poucos amigos com uma rapidez estonteante porque dávamos todos muito menos valor a tudo. Penso que ainda não sabia qual era suposto ser o valor da amizade, por isso tudo era mais superficial, mais na onda de colegas de escola e a coisa ficava por aí. Claro que, quando alguém mudava de escola ou quando o secundário acabou, a maioria das relações ficou quebrada.
Para além disso, a aparição do messenger trouxe às amizades uma nova dimensão: surgiram as conversas espontâneas entre gente que nem reconhecia a cara do outro quando se cruzavam e desenvolveram-se amizades que não passaram para a vida real porque não ficava bem. E eu era uma dessas pessoas que passavam horas na net a conversar com alguém que conhecia ligeiramente de se sentar ao fundo da sala ou a tentar abrir os olhos ao objeto da minha paixão e respondia com interesse quando alguém da turma do lado metia conversa.
Agora o messenger foi substituído pelo chat do facebook que usava para combinar trabalhos e que uso regularmente para conversas práticas com os meus amigos (aqueles mencionados lá em cima) ou com pessoas próximas de mim, daquelas com quem também falo frequentemente no dia-a-dia. O contacto virtual não ultrapassou o contacto real e, aperecebi-me ontem, que é por não ter paciência para isso, muito menos para voltar ao antigamente em que respondo com interesse àquela pessoa que não me diz absolutamente nada ou que me diz pouco.
Conversas a sério temos cara a cara com quem é importante para nós. Para os outros que me perguntam "olá, tudo bem? XD que tal a vidinha? lololol" as respostas são curtas. E se vejo que a intenção é continuar num debitar de informação sobre os pensamentos profundos, as relações amorosas e o quisto no tornozelo, arranjo uma desculpa e fecho a janela da conversa.
O chato é que há quem não entenda a dica e, mais tarde ou mais cedo, volte sempre à carga.