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Friday, 18 October 2013

Fosso de gerações


As gerações mais antigas, aquelas que têm agora entre os quarenta e os sessenta anos, gostam de empenhar o seu tempo a maldizer as gerações mais novas, desprovidas de educação e de formação, únicas responsáveis por todo o mal deste mundo.
Eu sou um membro de uma destas gerações mais recentes, destas que estão algures no meio da cronologia, sobre as quais recaem as críticas sábias dos mais velhos. Também eu sou testemunha de que num cruzamento entre novos e velhos, só os segundos se dirigem a mim não com simpatia, mas com comentários lascivos de fazer envergonhar qualquer pessoa que os ouça. Não tenho o hábito de responder. Em vez disso, olho para baixo ou para o lado e finjo que não ouço.
No entanto, há uns dias, ao chegar à passadeira cruzei-me com um senhor dos seus sessenta anos, com bom aspeto, que me falou:
- Olá, Maria.
Fiquei surpreendida, mas segui, até que voltei a ouvi-lo:
- Estás boa?
Só isto não tem problema quase nenhum, aparte tratar uma pessoa que não conhece de lado nenhum por tu. Mas foi o tom de voz, o mesmo dos trolhas que babam mal educadamente à porta de um café pelas raparigas que passam, desde que tenham rabo e pernas.
Virei-me para trás e perguntei-lhe:
- Isso era para mim? Conhece-me?
E o ar encavacado dele, apanhado e confrontado, deixou-me perceber que talvez as antigas gerações tenham ainda muito a aprender com as que tanto desdenham.

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