Ontem fui ao supermercado com o meu marido abastecer-me de coisas úteis para a casa, nomeadamente uma faca de cozinha e duas pinças pequenas para servir salada.
Na caixa, a mulher, com um ar de quem estava a fazer o maior frete no mundo, pegou nas pinças, observou-as o tempo necessário para decorar a Mona Lisa, rasgou um sorriso e comentou o quão giro e útil aquilo era. Entretanto, o homem metia as tralhas no saco e ela não olhava sequer para ele.
Passou a faca e perguntou-me a idade. Disse-lhe um número mais perto dos 30 do que dos 20.
- Tens a certeza?! É que pareces bem mais nova... Nem sequer parece que andas no secundário. Talvez na primária. Tinha de perguntar isto por causa da faca...
Lancei-lhe um obrigada pelo elogio, mas ela não captou o sarcasmo. Continuou a perguntar-me a minha vida toda, o que faço, de onde sou, que línguas falo... e ele a ensacar as compras.
A certa altura lá perguntou:
- E ele, é da mesma área de negócios que tu?
E ele, a ensacar, nem uma palavra, até porque a pergunta era para mim.
No final, ainda perguntou se tínhamos filhos.
Foi preciso chegar a Londres para ter uma funcionária da caixa do supermercado a preocupar-se tanto comigo, com medo de que fosse auto-esquartejar-me com uma faca de cozinha.