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In other words...

Tuesday, 8 January 2013

Preconceito

Quando entrei para o mestrado identifiquei-me rapidamente com uma colega minha, cerca de 6 anos mais velha do que eu, com quem comecei a dar-me bem logo no início. A certa altura estávamos numa sala a estudar e eu que, no meu direito, tinha o facebook ligado à minha frente, ouço-a subitamente a perguntar, em êxtase, ao mesmo tempo que espreitava para o ecrã:
- És da família do X?
Durante uns instantes não percebi como é que ela conhecia um familiar meu e foi então que me lembrei que, por causa da profissão que tem, ele aparece regularmente na televisão. É algo que não me ocorre todos os dias, nem todos os meses e, embora tenha muito orgulho nele, não uso esse facto para impressionar ninguém.
Ela continuou:
- Eu adoro-o, ele é espetacular, é o meu ídolo. Adorava conhecê-lo e bla bla bla.
Em dezembro, quando fiz anos, convidei-a e a mais três ou quatro pessoas para virem jantar a minha casa. Nada de especial, tudo muito familiar. Ela perguntou-me o que é que eu queria que ela levasse e sugeri-lhe o doce de não sei o quê (oreo, talvez), de que ela estava sempre a falar.
Abri-lhe a porta, mostrei-lhe a casa, apresentei-lhe o meu namorado e a conversa foi bastante animada até que uma grande amiga minha chegou e me deu um telemóvel. Não desfazendo, não era um blackberry nem nada parecido e custou, no máximo, 20€.
Uns segundos depois recebo uma mensagem que dizia algo como:
«Olá babe, já cheguei, mas já estou arrependida de ter vindo.»
Estava à espera de uma amiga minha, por isso levei algum tempo até perceber que tinha sido a minha colega que me tinha mandado, por engano, a mensagem que era para o namorado.
Durante a noite toda fingi que nada se tinha passado e quando já toda a gente tinha ido embora ela disse-me:
- Estou tão envergonhada com aquela mensagem... É que tu és da família do X, os teus amigos dão-te telemóveis, tens imensa roupa (ela pediu-me para ver o meu armário) e a única coisa que eu te trouxe foi um doce.
Fiquei parva, mas lá lhe disse que tinha gostado imenso da sobremesa dela e que não tinha mal nenhum, que percebia que se tivesse sentido mal, embora não tivesse razões para isso.
Durante os meses que se seguiram tentei (quando nem sequer fui eu quem errou) fazê-la sentir-se bem ao meu lado, mostrando que não me acho superior nem nada. Pouco tempo depois, cortou relações comigo.

Já não foi a primeira vez que senti esse tipo de preconceito em relação a mim, vindo de gente que, não sei muito bem porquê, se sente intimidada ao meu lado pelo facto de eu sempre ter vivido no centro do Porto  ou por algo assim do género que não é propriamente mérito meu.
E é um bocado por causa de gente como esta que, quando conheço alguém, sou bastante desconfiada e demoro algum tempo até abrir um bocadinho da minha intimidade.

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