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Tuesday, 2 July 2013

Carrologia

Foto daqui
Carros não são a minha especialidade, na medida em que não sei avaliar o motor, a cilindrada ou os cavalos. Pouco mais sei medir do que o conforto, se me permite ver a estrada e se, obviamente, a aparência e a cor me agradam. Mas, de resto, nunca tive de escolher um carro. O único que me passou para as mãos foi deixado pelo avô do meu marido e ele já andava com ele quando o conheci. É um Nissan Primera de 92, escuro, comprido à frente e a trás (mais do que eu gostaria) e, acima de tudo, fiável. Tem 21 anos e durante estes cinco em que tenho andado com ele nunca deu problemas, tirando uma ou outra coisa insignificante.
Há marcas nossas nele a comprovar a nossa relação, como da vez em que o portão do estacionamento da faculdade veio contra ele, ou da vez em que as colunas do estacionamento do supermercado se meteram no caminho, ou da vez em que a coluna da garagem não se desviou.
Mais tarde ou mais cedo vou ter de separar-me dele, não só porque, em princípio, não vai durar para sempre (desconfio que até vai), mas também porque vou querer algo mais adequado a crianças e carrinhos e cadeirinhas. Tenho dois carros de eleição: o Beatle e o Citroën C3 pluriel, embora nunca venha a ter nenhum dos dois por só terem dois lugares atrás e uma vez que cheguei àquela fase da vida em que não consigo pensar mais à frente sem colocar crianças aqui e ali. O problema é que os carros de hoje têm cada vez mais mariquices e, consequentemente, mais avarias: são os que não precisam de chave e os que fazem x, y e z automaticamente e vai-se a ver e tudo isso avaria e é uma chatice, porque ao fim de um ano o carro tem de ficar internado na garagem durante umas semanas e transtorna-nos a vida toda.
Talvez mais do que do atual, só gostei do Opel Corsa vermelho do meu pai, porque não tinha cintos nos bancos de trás, mas não durou muito tempo e foi substituído por um maior e, obviamente, com cintos.
Hoje lembrei-me que o meu fiel carrinho não pode entrar em Lisboa e apercebi-me de que é bem provável que venha a ter cada vez mais limitações, porque um ano de carro equivale a muitos anos e a muitos quilómetros feitos, a embraiagens estragadas e a pneus gastos e acho que isso facilita um bocadinho a aceitação de que, provavelmente, até ao final desta ano vou deixar de ter uma relação tão próxima com ele como a que tenho agora.
Nem sempre seguimos rumos compatíveis, mas espero que ele ainda ande por cá mais alguns anos para fazer um bocadinho mais parte da família e pertencer, também, um bocadinho à terceira geração que, um dia, virá.
Foto daqui

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