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Friday, 6 December 2013

Peça de um puzzle



Tenho uma utopia já desde há alguns anos. Talvez tenha sonhado com ela, talvez a tenha apenas criado durante a adolescência quando me sentia uma incompreendida, talvez ainda precise dela de vez em quando. O que é certo é que penso muitas vezes em como seria ter alguém cem por cento compatível comigo; alguém que pensasse da mesma maneira que eu, que alinhasse nas minhas loucuras, que me deixasse deprimir quando é preciso, que não me julgue quando como de mais nem quando como de menos, que se ria das minhas piadas sem que tenha de explicá-las, que sinta tudo como eu.
De cada vez que partilho esta ideia com alguém, dizem-me sempre que seria uma monotonia, nem precisaríamos de interagir. Mas às vezes saber-me-ia bem este conforto.
No entanto, há um fenómeno na minha vida, transversal às suas várias etapas, que contradiz isto em absoluto: nunca fui muito capaz de me relacionar com pessoas da mesma área de estudos/trabalho que a minha. Para distanciar um pouco mais a identificação, dou-me maioritariamente com gente mais velha. Basta-me olhar à minha volta para me surgirem logo vários exemplos que o corroboram.
Quando comecei a trabalhar nesta empresa, com colegas equivalentes a mim, achei que seria, naturalmente, com eles que me daria mais, com quem partilharia experiências de estudo e trabalho, sobretudo por trabalharmos na mesma sala e por conhecermos as mesmas pessoas. Contudo, o que constato agora é que, por uma sucessão encadeada de enormes acasos, dei por mim a dar-me e a identificar-me cada vez mais com um grupo de gente que trabalha na outra ponta da empresa, numa área que em nada coincide com a minha e, para que o hábito não seja desonrado, tem pelo menos mais quatro anos do que eu.
O mais incrível é que, com tantas diferenças, com um fosso de idades que até podia tornar-se relevante, tendo em conta o estado da vida de algumas daquelas pessoas quando comparado com o da minha, sinto-me perfeitamente encaixada no meio deles, como se tivessem estado à minha espera e, ao ver-me, me tivessem puxado enquanto diziam "ah, cá estás, finalmente; ficas aqui, neste cantinho da imagem".
Não estou muito habituada a pertencer a algo, assim, logo à partida. E é essa uma das razões que me fazem encarar esta nova fase que acabou de começar com um ânimo que, de outra forma, não teria.

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