Que tenha consciência disso, mudei de casa quatro vezes na minha vida. As duas primeiras foram quando fui e quando voltei de Erasmus, respetivamente. Foi uma mudança temporária, sabia à partida que ia acabar e vim duas ou três vezes a casa, durante esse tempo, pelo que pude fazer a troca das roupas de inverno pelas de verão que, para além dos livros e dicionários, foram as únicas tralhas que foram e vieram comigo.
Pouco depois disso, fui viver com o meu amor. Juntamos as tralhas de ambos, compramos tralhas em conjunto e instalamo-nos numa casa nossa, pequenina, onde não cabia tudo à larga. Foi uma mudança grande, com várias viagens de carro com a mala e o banco de trás atafulhados.
Meses mais tarde mudamos de casa, para uma maior, onde as nossas tralhas antigas, compradas em conjunto e acumuladas ao longo daquele tempo couberam e ainda cabem bastante bem. Foi outra grande mudança, embora dentro da mesma cidade, que implicou listas para que nada ficasse esquecido e para que algumas coisas fossem deixadas, propositadamente, para trás.
Agora preparo-me para fazer a maior mudança da minha vida, metafórica e literalmente. Daqui a trinta e cinco dias vou mudar não só de casa, não só de cidade, mas de país. O meu amor foi indo à frente e levou parte das coisas dele. Para trás deixou-me a mim, a parte das tralhas dele, às minhas e às nossas tralhas todas.
Olho à minha volta e vejo a quantidade de coisas que compramos, que fizemos, que herdamos, para juntar a todas as outras que já tínhamos, e não sei como vamos fazer para selecionar o que vai e o que fica.