Cresci a ver os filmes da Disney em VHS na versão brasileira, a cantar as músicas todas e a assumir uma das personagens (normalmente a princesa, claro). O primeiro que vi foi a Bela e o Monstro e adorei todas as outras histórias dos Príncipes e das Princesas, muito mais do que de qualquer um com animais. Na vida e nos desenhos animados sou muito mais a favor dos seres humanos.
Hoje em dia, como qualquer aficionado da Disney que se preze, vejo Once Upon a Time, que só veio corroborar a minha opinião quanto à Branca de Neve: toda a história dela é aborrecida e não traz nada de novo. Com as restantes, a Princesa Cisne incluída (ainda que não pertença à mesma família), aprendi imenso sobre a vida e, sobretudo sobre o amor e a importância da amizade. Acho que, se refletirmos um bocadinho sobre cada uma das histórias, conseguimos compreender e solucionar situações que achávamos absolutamente irresolúveis.
A Pequena Sereia (o que eu adoro aquele cabelo enorme e vermelho) fez o favor de mostrar a responsabilidade que assumimos ao tomar uma decisão e que, de facto, a vida está cheia de decisões importantes. Algumas irreversíveis, outras não. O importante é tomá-las e vivê-las, assumi-las sem medo, acarretando todos os resultados que delas advém. E não vale a pena partirmos do princípio que as grandes decisões têm sempre um senão desagradável: afinal, ela perdeu a voz e deixou o mar para ficar com o Príncipe, mas a cena final mostra-nos a Ariel a falar, rodeada pelo mar, pelo pai e pelos irmãos.
Arriscar é, muitas vezes, uma atitude louvável.
A Bela e o Monstro contam-nos a velha história das aparências que iludem, das caras que não mostram os corações ou dos corações que não estão estampados na cara. A Bela e o Monstro contam, na verdade, uma história que atualmente é um fenómeno impossível de ignorar: cada vez mais as pessoas conhecem o âmago umas das outras antes de lhes conhecerem as caras. Isto porque com a proliferação das redes sociais é preciso saber distinguir a imagem transmitida pelas fotografias criteriosamente escolhidas para serem tornadas públicas da imagem real da pessoa. É essa a vantagem (ou desvantagem) das novas tecnologias: é mais fácil conseguir conhecer os outros sem nos deixarmos distrair pela sua beleza ou fealdade.
A Princesa Cisne é, para mim, a mais bela história alguma vez contada. Não é o Príncipe que é encantado, mas sim a Princesa, que espera por ele e acredita que ele vai encontrá-la. A Odete e o Derek, afastados pelos ciúmes de um louco, acreditam no amor que os une para "além da eternidade" e não se deixam embalar na cantiga de que a distância se encarrega de destruir tudo. Se o amor for realmente forte aguenta qualquer derrocada, até porque, como diz o outro, há "aviões, comboios e autocarros". Corre-se, se for preciso.
Uma vez mais, uma história aplicável aos dias de hoje (aos meus dias de hoje) e à realidade da emigração.
"A beleza é só o que importa para você?" é uma das frases mais memoráveis que a Odete lança iradamente ao Derek quando ele tenta fazer-lhe uma declaração de amor desajeitada. Os homens são, em grande parte, desajeitados para estas coisas e algumas mulheres ficam embevecidas pela cantiga da beleza. Eu sou como a Odete e o "és bonita" não me chega.
Do Aladino retiro a prova de que o dinheiro não traz felicidade, mas ajuda. Se há coisa que me incomoda é o preconceito que os pobres têm contra os ricos. Não é por os outros terem e eu não que vou guardar-lhes rancor, não é por os outros comprarem aquilo que eu quero que vou invejá-los, mas há muito quem se deixe dominar por esse complexo de inferioridade ao ponto de ficar estagnado, sem se permitir sonhar nem/ou avançar. O Aladino não se deixou intimidar e foi em frente na loucura de conquistar a Princesa. Conseguiu. E tem um tapete mágico (eu sonho com um).
A Bela Adormecida vem um bocado na onda da Princesa Cisne e da teoria de que o tempo não desgasta nem esvai o amor. Para além, disso, a Aurora, tal como eu, acredita que o Filipe lhe estava destinado e que se conheceram porque tinha de ser. Porque tinham sido feitos um para o outro. Eu gosto sempre de pensar que tudo acontece por alguma razão.
A Cinderela, à semelhança do Aladino, não se deixou subjugar pela sua condição económica inferior à daquele de quem gostava. A história da Cinderela (e a minha) fundamenta e é fundamentada pela tese de John Donne de que "ninguém é uma ilha por si mesmo", porque a existência de alguém na vida de cada um, que nos apoie, que esteja lá para amparar as quedas, seja um pai, um irmão, um amigo, um marido ou um padrinho, é de uma importância vital.
No geral, como é óbvio, cada uma destas histórias sustenta o poder incontestável do amor, quer seja aquele que une um homem e uma mulher (ou um homem e um homem ou uma mulher e uma mulher), quer seja o que une as amizades e as famílias.