Pensava gostar linearmente das pessoas: este é o meu melhor amigo, este é o meu amigo para sair à noite, esta é a minha amiga para conversas femininas e estes são os colegas de trabalho. Tudo compartimentado, as pessoas separadas por categorias e quantidades de gostar e o caso ficava assim resolvido, sem ser preciso pensar muito.
Havia aqueles por quem fazia tudo, aqueles por quem só fazia uma parte e aqueles por quem não fazia quase nada. Era assim que faria sentido.
Até que a minha irmã me perguntou se alguma vez seria capaz de vender ou doar óvulos (conversas por que se passa numa sexta feira à noite em frente a uma taça de salada gigante e a uma garrafa de vinho bom). Nunca tinha pensado nisso, tenho de admitir, mas à partida diria que não. Vender era impensável, porque não dou um filho em troca de mil euros que sejam. Não corro o risco de cruzar-me com um filho na rua, de receber um filho em casa que me é apresentado como o namorado do meu filho legítimo em troca de algum dinheiro que me faça jeito para ir ao supermercado num mês.
Fiquei a pensar no doar. Não me parece uma questão fácil de ponderar, mas agora, neste momento, ocorrem-me três pessoas (duas delas parte de casais) por quem o faria num piscar de olhos, não só pelo facto de não correr os riscos acima expostos, mas pela quantidade de gostar que sinto por elas.
Não almejo, não anseio pelo dia em que me peçam "dá-me um filho meio teu", mas gostei de me aperceber da importância que certas pessoas têm para mim a partir de uma pergunta atirada meio ao calhas.
I thought I liked my people in a linear way: this one is my best friend, this one is the friend I go out at night with, this is my girl talk conversations friend and these are my co-workers. Everything comparimentalised, people separated by categories and liking amounts and everything was settled, there was no need for too much thinking.
There would be the ones I would do anything for, the ones I would do only a part of everything and the other ones I would do almost nothing for. That was how it was supposed to be.
But my sister asked me if I would ever feel able to sell or donate ova (conversations we have on a friday night in front of a big salad bowl and a great bottle of wine). I had never thought about it, I have to say, but, in principle, I would say no. Selling is out of the question, because I wouldn't give a child away in exchange of a thousand euros. I wouldn't take the risk of seeing my own child on the street, of accepting them in my house and of them being presented to me as the boyfriend or girlfriend of my legitimate son or daughter, in exchange of some money that allowed me to buy supplies for a month.
I gave the donation a little bit of thought. I don't think it is an easy question but right now, in this exact moment, there are three people (two of them part of couples) I would do it for, in a blink of an eye, not just because I wouldn't risk what I just said, but due to how much I like them.
I don't desire that the day when they ask me "give me a half yours kid" comes, but it felt great realizing how important some people are for me, as a result of a single question.
2 comments:
Uau!
Depois do dia de hj e de eu estar como estou... Acabar de chegar a casa, ler isto e pensar (no meio da seriedade da coisa, atenção!) que realmente precisas de arranjar um hobby! É que te lembras de cada uma... Só me ocorre uma expressão: Twisted mind
Anyway... :)
Oh Carla! Mas só percebeste agora que a minha mente é twisted?
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