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In other words...

Saturday, 29 March 2014

Caminhos de algodão / Cotton ways


Há alturas em que ninguém pensa em aviões, em que são vistos a passar lá no alto, a deixar riscos no céu e em que cá em baixo até se fazem competições para ver quem adivinha mais companhias, mas em que tudo corre bem e não se pensam nos acidentes.
E, para contrabalançar, há fases como a atual, em que anda tudo louco à procura de notícias sobre o avião desaparecido, o que puxa documentários e reportagens sobre acidentes antigos, e em que há mil e uma aterragens de emergência e motores que avariam e tudo o que mais se possa imaginar.
Ora, eu sou uma mariquinhas, que morre de medo de andar de avião, sobretudo sozinha. Acompanhada até nem faz muito mal: se formos os dois juntos e o avião cair, ao menos morremos juntos e eu vejo-o nos meus últimos momentos. Mas sozinha faz-me imaginar histórias mirabolantes e obriga-me a pensar no que vou perder se morrer cedo de mais, numa viagem de férias de quatro dias.
Por mim as viagens faziam-se todas a pé, por caminhos de algodão...


Wednesday, 26 March 2014

Auto-retrato / Self-portrait (6)


You will be shocked kids, when you discover how easy it is in life to part ways with people forever. That's why, when you find someone you want to keep around, you do something about it.


(How I met your mother, s9 e21)

Tuesday, 25 March 2014

Conhecer-me / Getting to know myself



Não gosto de viver sozinha. Vivi sozinha durante nove meses, numa residência rodeada por gente que fui conhecendo, de que gostei e que gostou de mim e, ainda assim, dava por mim acordada a altas horas da noite a pensar o que é que estou a fazer aqui sozinha, sem ninguém com quem conversar, sem as pessoas que me conhecem a sério? Estava a um bater à porta de distância.
Agora vi-me forçada a viver sozinha, a entrar e a sair de uma casa vazia, a dormir numa cama grande demais para mim, a ter de confiar inteiramente no meu despertador para acordar de manhã, a jantar sozinha pelo menos duas vezes por semana (tenho tido a sorte de ter companhia na maioria dos restantes dias), a fazer planos a contar só comigo.
A princípio não teve piada nenhuma, custou-me como nada me tinha custado antes. Todos os meus medos foram exacerbados, prestava atenção a cada barulhinho e achava que era o fim, evitava pensar nele a chegar a casa ao fim do dia ou a acordar-me de manhã com um despertador antes do tempo, para não desatar a chorar.
Entretanto as saudades sobrepuseram-se aos medos e passei, aos pouquinhos, a ser capaz de aproveitar os meus momentos a sós e os planos que não faria se ele aqui estivesse. Continuo a não gostar de viver sozinha, não fui feita para esta vida, porque, se por um lado algumas pessoas me cansam, por outro tenho necessidade de me rodear constantemente daquelas de quem gosto. No entanto, apercebi-me de que consigo fazer muito mais do que o que pensava, sobretudo no que diz respeito à condução. Nem sempre gostei de conduzir, mas desde que lhe apanhei o jeito (há dois ou três anos) que tenho um amor grande pelo volante, mas sou uma naba com caminhos e, por essa mesma razão, tenho tendência a stressar de cada vez que sei que vou ter de ir a um sítio novo.
Desde que ele foi embora e me deixou o carro à minha inteira disposição e responsabilidade, choveram-me em cima propostas para ir a mil e um sítios a que nunca tinha ido nem sozinha nem acompanhada. E fui. E dei-me conta de que deixei de stressar, de que se me perder (aconteceu uma vez, só) até consigo manter a calma e não desatar a ligar para todos os números de emergência e dar com o caminho de volta.
Só continuo naba naba a estacionar, mas com calma isto vai ao sítio.

Auto-retrato / Self-portrait (5)


A falta que eu sinto disto...

How I miss this...

Monday, 24 March 2014

Conversas via skype (3) / Skype conversations (3)

- Quantas garrafas de água com gás terás aí no quarto?
Perguntou ele, enquanto via a pequena quantidade de desarrumação que o vídeo do skype permite.

- Aqui tenho duas.
Respondi, enquanto bebia outra.

De manhã, quando acordei e percorri a casa, dei com duas na casa de banho, três na mesinha de cabeceira e três na sala.
Pensamento positivo: antes isto do que vinho ou vodka...


Sunday, 23 March 2014

Viagens da minha vida / Trips on my life


Na semana passada fui renovar o passaporte, que me levou a percorrer uma pequena parte do mundo. Fui buscá-lo no dia em que passei no exame de condução e em que, horas mais tarde, me meti num avião rumo ao aeroporto de Orly, para começar o meu ano de Erasmus: 27 de setembro de 2007.
Enquanto esperava por que me chamassem, corri mentalmente as várias cidades por onde passei com ele na mão. A primeira paragem com partida de Paris foi Bucareste, aonde fui com uma amiga que tinha conhecido um mês antes. Senti-me rainha, adorei e detestei a cidade. Prometi que lá voltarei com o meu amor assim que puder.
Depois do Natal, peguei no passaporte, nessa amiga e em mais duas e fomos a Viena, a Bratislava e a Praga, numa saga feminina por países de línguas estranhas. Adorei Viena, quero lá voltar também, viver o conto de fadas que é a cidade, revestida de cor de rosa, de palácios e de histórias de sonho.
Só voltei a pegar-lhe dois anos mais tarde, quando fui aos Estados Unidos. A minha vida mudou entretanto, conheci o meu amor, comecei a namorar com ele, conheci os pais dele, fui viver com ele e fomos de férias os quatro, durante um mês a percorrer uma parte da América: Nova Iorque, S. Francisco, Los Angeles, Las Vegas, Grand Canyon, Bryce Canyon, Canyonlands, Rocky Mountains e Denver.
Entretanto casei, o meu passaporte caducou e a minha vida exigiu-me que o renovasse. Vou usá-lo pela primeira vez daqui a menos de duas semanas, quando for a Londres passar quatro dias a matar saudades e, espero, vou pedir que o carimbem, para ter esta fase toda registada, tal como tive a anterior.


Gosto de ti / I like you


A minha tia perdeu o pai, que era o meu avô, pouco depois de casar. Tanto quanto sei, no dia do casamento, ele disse-lhe algo como Já posso morrer em paz, já tenho todas as filhas casadas. Uns dias mais tarde, estava ela em lua de mel, um enfarte matou-o, deixou sete filhos, vários netos e uma mulher.
Eu era bebé, não tenho qualquer memória dele, nem sei sequer se nos daríamos bem. Ouço histórias, porque toda a gente fala do meu avô Vasco com admiração, todos gostam de o gabar, família ou não, e conheço-lhe, de certa forma, a personalidade e a mentalidade de alguém mais velho, fiel ao seu tempo.
No dia do pai, essa minha tia recomendou-me que estimasse o meu enquanto o tiver, que tem remorsos de não ter feito mais pelo dela.
Custa-me verbalizar o quanto gosto de alguém. Para dizer a verdade, custa-me a primeira vez em que o faço porque, a partir daí não paro. Gosto de dizer ou escrever gosto de ti / amo-te vezes sem conta, para ter a certeza de que a mensagem foi recebida. Gosto de distribuir beijos, abraços e mensagens de bom dia e boa noite. Gosto de prestar atenção e tentar ajudar quem puder, no que puder.
Talvez venha da minha mania de sofrer por antecipação e de prever que o bom vai acabar, mas tento viver ao máximo ao lado das minhas pessoas enquanto as tiver. Nem sempre lhes digo o quanto gosto delas, mas faço por estimá-las, como me pediu a minha tia, para que se/quando o bom acabar, não haja remorsos nem dúvidas de que gostei, mesmo que agora possa não gostar nem um bocadinho.

Thursday, 20 March 2014

Sensações desagradáveis / Terrible feelings

Haver alguém a fazer-me sentir terrivelmente mal por algo que estou a fazer bem. Fico incomodada para o resto do dia.

Wednesday, 19 March 2014

Gestos que importariam / Gestures that would matter


Pensava gostar linearmente das pessoas: este é o meu melhor amigo, este é o meu amigo para sair à noite, esta é a minha amiga para conversas femininas e estes são os colegas de trabalho. Tudo compartimentado, as pessoas separadas por categorias e quantidades de gostar e o caso ficava assim resolvido, sem ser preciso pensar muito.
Havia aqueles por quem fazia tudo, aqueles por quem só fazia uma parte e aqueles por quem não fazia quase nada. Era assim que faria sentido.
Até que a minha irmã me perguntou se alguma vez seria capaz de vender ou doar óvulos (conversas por que se passa numa sexta feira à noite em frente a uma taça de salada gigante e a uma garrafa de vinho bom). Nunca tinha pensado nisso, tenho de admitir, mas à partida diria que não. Vender era impensável, porque não dou um filho em troca de mil euros que sejam. Não corro o risco de cruzar-me com um filho na rua, de receber um filho em casa que me é apresentado como o namorado do meu filho legítimo em troca de algum dinheiro que me faça jeito para ir ao supermercado num mês.
Fiquei a pensar no doar. Não me parece uma questão fácil de ponderar, mas agora, neste momento, ocorrem-me três pessoas (duas delas parte de casais) por quem o faria num piscar de olhos, não só pelo facto de não correr os riscos acima expostos, mas pela quantidade de gostar que sinto por elas.
Não almejo, não anseio pelo dia em que me peçam "dá-me um filho meio teu", mas gostei de me aperceber da importância que certas pessoas têm para mim a partir de uma pergunta atirada meio ao calhas.

Tuesday, 18 March 2014

Autopsicografia / Self psychography

Ser eu é começar a pôr protetor solar fator 50 no início de março, duas vezes ao dia, e a meio do mês apanhar um escaldão brutal na cara que me deixou a esfolar; é ter as unhas roxas sem estarem pintadas, porque sou uma pessoa fria; é acordar com uma nódoa negra no joelho e outra na barriga e não fazer ideia de onde apareceram, mas não me preocupar muito com isso porque já é normal; é acordar com golpes nos dedos e também não saber de onde vieram, mas também não estranhar; é correr de manhã para apanhar o autocarro e correr à tarde para apanhar o autocarro, no mesmo dia, em cima dos meus saltos mais altos e mais instáveis; é sofrer por antecipação pelo mal que pode acontecer e pelo bem que está previsto mas que pode correr mal; é fechar um livro e cinco segundos depois já não saber em que página vou; é viver os problemas dos outros como se fossem meus e chorar de alívio quando ficam resolvidos; é ter tendência para escrever sobre tudo o que me acontece, mesmo quando nem tudo é suposto ser escrito; é ser uma nazi da gramática e corrigir toda a gente, porque toda a gente deve saber falar bem a sua língua; é rir-me de infantilidades, dizer infantilidades e ser a única a rir-me, de tão cómico que o meu mundo interior é; é apegar-me de tal forma às pessoas que consigo estar ao lado delas e a pensar na infelicidade que vou sentir quando deixar de o estar; é tomar sempre o mesmo pequeno almoço e almoçar quase sempre a mesma coisa, não por regra, não por rotina, mas porque me sabe bem; é comer um iogurte magro que me soube tão bem que me fez pensar "não pode ser magro"... e realmente não era; é não gostar de falar ao telefone e, ainda assim, quando o ecrã me mostra o nome de alguém de quem gosto e que quer falar comigo, abrir um sorriso enorme e deixar-me ficar a falar durante o máximo de tempo possível.
É, dia sim, dia sim, viver uma montanha russa de emoções e ainda me admirar com as coisas que sou capaz de fazer, de sentir e de pensar.

Thursday, 13 March 2014

Auto-retrato / Self-portrait (4)


Parabéns! / Happy birthday

Uma das pessoas de que mais gosto faz hoje anos. Lembro-me, coisa rara em mim, do dia/noite em que o conheci, no Plano b, quando tinha começado a namorar há cerca de dois meses. Estava à espera, obviamente, de conhecer os amigos do meu namorado, só não estava à espera de gostar tanto dele(s). Foi assim que entrou, meio do nada, na minha vida, e por cá ficou, já sem leviandade nenhuma. Aliás, fiz e faço questão de dizer a quem me quiser ouvir que, se tudo correr bem e se ele aceitar, será o padrinho do meu primeiro filho, porque se só tiver um, quero que seja o padrinho do meu único filho.
Foi o primeiro de todos a migrar para o sul e tem uma casa tão fofa, tão confortável, que a adotei como a minha segunda casa.
Fiz e faço questão de dizer, a ele e a quem me quiser ouvir também, que é uma das minhas pessoas favoritas no mundo. E é por isso que sinto um certo orgulho em olhar para trás e pensar que tenho a sorte de este ser o sexto aniversário dele em que eu estou presente, mesmo à distância.
Parabéns!

Tuesday, 11 March 2014

They don't know my head is a mess...

A minha cabeça reflete o quão caótica sou em relação à gestão das minhas posses materiais, questão que não vou detalhar muito mais. É precisamente para o contrariar que passo os dias a fazer uma lista de assuntos para falar na nossa conversa diária. Ainda assim, como é natural, há vezes em que perco o papelinho e me esqueço de mencionar metade dos assuntos...

Auto retrato / Self-portrait (3)



Monday, 10 March 2014

Uma nova pessoa? / A brand new me?


Hoje de manhã, ao sair de casa, senti pela primeira vez em meses e este ano o abraço quente do bom tempo e da primavera antecipada, talvez como forma de recompensa pelo inverno molhado, que veio acompanhada de um sopro aquecido que varreu o negativo para trás e abriu caminho para dias coloridos. Foi então que me apercebi que, de facto, as pessoas mudam, por muito que passem a vida a afirmar nunca pensarei dessa forma, quando dei por mim a constatar que vivia muito bem um verão com temperaturas assim. Pediria, talvez, um pouquinho mais de calor à noite, mas, de resto, é a condição ideal para quem, como eu, não é fã de mostrar as pernas destapadas, não gosta de praia - fico irrequieta ao fim de meia hora - e detesta usar biquínis.

Tuesday, 4 March 2014

Desvantagens de viver sozinha / Disadvantages of living alone

Nem tudo - aliás, quase nada - é rosas nisto de viver sozinha e à distância da pessoa de quem se sente imensuravelmente a falta. Para começar, vejo-me obrigada a tratar de tudo aquilo que eram tarefas dele, como compor o que se estraga e levar o lixo e a reciclagem. Fazer a cama com um edredon duplo, já de si algo complicado, torna-se praticamente impossível quando feito apenas a duas mãos. Continuando na cama, dormir sozinha é mau, tenho frio, perco-me na cama e sinto a falta do cheiro e do toque dele (abraço-me à t-shirt que ele cá deixou desta vez, mas não é mesmo igual). As séries que via com ele vão-se atropelando na fila de espera, aguardando ansiosamente que tratemos delas. Fazem-me, também, falta os passeios a dois, dar as mãos e, acima de tudo, conversar sobre tudo e sobre nada, identificar-me com ele a cada palavra e a cada pensamento e sentir-me protegida pela compreensão dele.
O pior são mesmo os momentos sozinha em que penso no que faria se ele estivesse aqui e morro um bocadinho de saudades...