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Monday, 18 March 2013

O caos em mim



Um dos meus defeitos é ser extremamente desarrumada. Nunca fui daquelas pessoas que veem algo fora do sítio, levantam o rabo da cadeira e vão repor a ordem. Pelo contrário: tenho tendência a, quando me dispo à noite, pousar a roupa num canto e planear guardá-la no dia seguinte, quando volto a fazer o mesmo porque no dia seguinte ainda posso arrumar a roupa de três dias num só. E o dia seguinte transforma-se numa semana e o quarto já tem roupa espalhada por todos os cantos, por isso passo para a casa de banho. A isso junta-se a minha incapacidade de aceitar que, se à noite vou usar o casaco que vesti de manhã, não faz sentido pendurá-lo no armário apenas durante umas horas. E o mesmo se passa com os sapatos. E os cintos. E os brincos. E por aí fora. Ao fim de um mês tenho roupa em todos os compartimentos e como já perco meia hora à procura de um par de calças que assumo que, milagrosamente, desapareceu, mas afinal está no fundo de uma montanha colorida de algodão, lá dedico uma tarde inteira a arrumar tudo nos respetivos sítios.
Aí sinto-me orgulhosa de mim por, ao fim de mais de vinte anos, ter conseguido tornar-me numa pessoa arrumada e vivo esse sentimento durante o máximo de uma semana, quando o ciclo recomeça.
É inerente a mim e, sabe-se lá porquê, os únicos lugares que sempre mantive exagerada e inutilmente arrumados são o frigorífico e a despensa.
Mas se isto acaba por tornar-se um problema para quem vive sozinho, para quem partilha a casa e a vida com outra pessoa pode revelar-se um handicap bastante significativo, especialmente se a outra pessoa for muito mais arrumada e organizada. Mais tarde ou mais cedo chego a uma situação de desarrumação extrema que o exaspera, pelo que quando vou ao monte dos papeis, dos cartões e das canetas procurar o elástico de cabelo azul que sei que está lá no meio há mais de dois meses... não o encontro. Foi, magicamente, parar à respetiva gaveta, mas demoro horas ou dias a fio até conseguir descobrir esse facto.
Devia aprender com isso, claro que devia, e poucas coisas sabem tão bem como entrar no quarto e poder andar em linha reta sem ter de desviar-me de objetos estranhos ou de peças de vestuário mal colocadas, mas é um hábito difícil de contrariar.
No entanto, ultimamente tenho desenvolvido um método que me ajuda a lutar contra essa tendência, que requer três doses extra de força de vontade e que se baseia num ditado muito velho, muito batido, mas muito verdadeiro: não deixar para amanhã o que se pode fazer hoje. Especialmente porque, como já disse, deixar para amanhã é o único passo necessário para nunca mais fazer o que é preciso.
Ainda não me assumo como pessoa arrumada, mas tenho feito um esforço tão grande para lá caminhar ao longo dos últimos cinco anos, que mantenho viva a esperança de algum dia poder afirmar que alcancei esse troféu. Quando esse dia chegar farei questão de anunciá-lo ao mundo.


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