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In other words...

Saturday, 31 August 2013

Amoridade

Tenho uma relação cíclica de amor-indiferença com Lisboa, que começou há muitos anos, era eu uma criancinha com tios, primos, tios-avós e primos em vários graus a viver aí. Tanto que, quando chegou a altura de ir para a faculdade, quis ir estudar para a capital, sobretudo por causa das pessoas que me prendiam, e ainda prendem, a essa cidade.
Fiquei a estudar no Porto e, nos entretantos, fui dar um saltinho a Paris, cidade pela qual e onde me apaixonei perdidamente. Nunca vi cidade tão deslumbrante como esta (embora Sevilha seja uma concorrente à altura) e adotei-a como minha. Vim embora, mas deixei lá uma parte de mim.
Readaptar-me ao Porto não foi fácil, mas voltei a deixá-lo entrar no meu coração, abracei-o e mantenho-o junto a mim com um carinho imenso, alimentado por fotografias bonitas e luzes românticas refletidas num rio frio. Nesta altura, com o fim da faculdade e os primeiros empregos, uma parte dos meus amigos foi viver para Lisboa e arredores, o que me levou a voltar a acordar para ela, que esperara por mim depois do desencanto da adolescência. Visitei-a, vivi os seus dias e as suas noites alegres, aceitei as suas pessoas, tão diferentes das do Norte, mas esse sentimento manteve-se apenas um fraquinho, daqueles infantis confessados em papeizinhos dobrados, passados às amigas durante uma aula.
Até este verão. Duas semanas passadas entre o Estoril, Cascais, Sesimbra, Setúbal e Lisboa mostraram-me as suas praias, os seus parques e os seus jardins espalhados por todo o lado, com lagos e espaços verdes animados por concertos, bicicletas e vozes elevadas e o fraquinho aumentou exponencialmente até reencontrar uma paixão já não adolescente mas adulta e verdadeiramente sentida.
Agora, depois de tanto negar, não posso deixar de confessar que rapidamente me mudaria para a capital, com a certeza de que seria, provavelmente, muito feliz.

Conversas ao almoço


Estávamos a almoçar com um casal amigo que nos tinha perguntado a que horas acordáramos. Responde ele:

- Eu acordei antes dela (eu) e fiquei a brincar com o tablet.

Eu concordei:

- Pois, eu acordei contigo a mexer no coiso.

Imediatamente desatei a rir, sobretudo para permitir que todos os outros se rissem também.

Sunday, 25 August 2013

Isto do casamento (6) - O bolo

No que diz respeito a casamentos, não gosto  particularmente do que é tradicional (e o meu marido partilha desse não gosto), o que foi notavelmente visível na escolha de acessórios grená para o vestido (a rosa, a cintura e a cauda amovível). Foi um bocado nessa onda que, sem esforço, decidimos tudo o que havia para decidir no casamento, que não quisemos que fosse uma celebração muito cerimoniosa nem cheia de protocolo. Aliás, foi um dia descontraído, cujo objetivo era que quer os convidados quer nós os dois nos divertíssemos. E conseguimo-lo.
A empresa de catering trabalha em parceria com a Bolita Doces, em Matosinhos, responsável por todas as sobremesas, incluindo o bolo. Fomos lá uma tarde ver os vários modelos e foi o meu marido que escolheu o aspeto exterior todo: três andares, cobertura de massapã, quadrangular, assimétrico e com uma cascata de flores brancas e grená (what else?). Não queria ter bonequinhos no topo do bolo, por isso a questão ficou resolvida logo ali.
Já o interior fui eu que escolhi: massa de chocolate com recheio de frutos vermelhos.
Normalmente é a sobremesa menos comida, depois de tantos bolos, doces, mousses e queijos, mas estava mesmo bom e o pouco que sobrou foi logo devorado nos dias seguintes. Agora já só resta uma fatia congelada para daqui a um ano.

Sunday, 18 August 2013

Ir para fora cá dentro

Iniciei uma saga de conhecimento de Portugal a caminho do Estoril. Figueira da Foz, Nazaré, São Martinho do Porto, Foz do Arelho, Óbidos, Peniche e Berlengas, Ericeira, Estoril, Sesimbra e Setúbal. Tenho tido direito a champanhe e flocos de neve no hotel, ginja em copo de chocolate, banho de imersão muito quentinho, peixinho grelhado, viagem de barco, peta zetas, praia e sol, mais peixinho grelhado, chocos fritos, gelados na Santini e muitas caminhadas.
Por cá vou continuar e deliciar-me com a vida, com o marido e com os amigos até me fartar e o Porto começar a sentir a minha falta... e eu a dele.

Sunday, 11 August 2013

Bagel à beira-rio


Há dois anos andava a rever algumas temporadas de O.C., onde os bagels faziam sempre parte do pequeno-almoço. Lembro-me que havia uma família que tinha uma máquina inútil para cortá-los a meio. Fiquei, assim, com vontade de experimentar aquilo que era vendido como a última maravilha do mundo.
Por isso mesmo, quando aterrei em Nova Iorque imbuí-me do meu espírito americano e decidi experimentar um bagel genuíno, daqueles vendidos em roulotes no meio da rua, barrados com queijo creme.
Não fiquei fã. Parecia um pão mau com um buraco no meio.
Ainda experimentei mais um ou dois, mas achei sempre um falhanço da gastronomia.
Em Miragaia, a caminho da Ribeira, abriu este ano o Porto Bagel Café, cujo ar condicionado ofereceu um agradável refúgio ao calor de ontem. O design colorido do café com duas salas onde estão disponíveis revistas e livros para leitura livre é deliciosamente apelativo, pelo que passei uma parte da tarde sentada num sofá às riscas a comer um bagel torrado com manteiga e outro com compota de frutos vermelhos. Voltei a não ficar fã - é mesmo um mal geral - mas o café vende muito mais do que isso e é uma boa sala de estar para quem gosta de passear junto ao rio e quer refrescar-se no verão ou aquecer-se no inverno.

Saturday, 10 August 2013

Uma família


Há alturas em que penso que se calhar não tem assim tão mal se não vier a ter filhos, porque eu e ele já temos uma dinâmica tão nossa, tão intrínseca, que alterá-la pode não ser assim tão ideal. Já pensei que eu e ele sozinhos nos divertimos, temos tema de conversa que não acaba e somos felizes, pelo que não acrescentarmos mais ninguém à nossa família até pode ser algo positivo.
Mas depois de um jantar com a família toda reunida à volta da mesa, a relembrar com os meus irmãos os desenhos animados que víamos juntos, de manhã, e a rirmo-nos uns com os outros, tenho a certeza de que ter filhos é, sem dúvida, um passo importante que quero dar mais cedo do que tarde. Quero vê-los crescer e reunir a família toda à volta da mesa com noras, genros e cunhados, para vermos fotografias antigas, recordarmos tempos passados e falarmos alto, como sempre acontece. Como sempre quis.

Tuesday, 6 August 2013

A gaiola dourada


É incontornável: somos um povo que gosta de futebol, de cerveja e de bacalhau regado com um bom vinho. Somos um povo que reúne a família e os amigos à volta de uma mesa cheia para lanchar, almoçar ou jantar. Somos um povo que fala alto e que ri muito. Somos um povo simpático, que gosta de acolher os de fora e de fazê-los sentir-se bem dentro das nossas portas. Somos um povo que sabe rir-se de si próprio e que leva a sua essência para onde quer que vá. E não há vergonha nenhuma nisso.
Mas, no meio deste povo, ainda há algumas pessoas complexadas, com tendência para superiorizar tudo o que seja estrangeiro e inferiorizar o que vem de dentro. E por isso mesmo, toda a gente devia ver este filme e perceber que tal como os americanos, os ingleses, os franceses ou os espanhóis se auto-caricaturizam, também nós podemos fazê-lo de uma maneira bastante cómica, ligeira e divertida. Como os portugueses.

Thursday, 1 August 2013

É verdade (3)

Uma das melhores coisas de estar com a pessoa que amamos é que já não temos de sonhar com o beijo, com as palavras, com o toque, para acordar e pensar "quem me dera que fosse verdade", porque podemos sonhar com aberrações, com histórias cómicas ou com nada em particular, acordar e relembrar "ainda bem que a realidade é tão melhor do que qualquer sonho".